Sabe quando uma canção
invade sua cabeça e você fica cantarolando a vida toda? Por mais que goste
da música, depois de um tempo ela enche seu saco... e quando você não se limita
a cantar mentalmente, enche o saco de quem te rodeia.
Amanheci
cantando: “Você tem fome de quê? Você tem sede de quê?”. Para quem não sabe, e
prefiro não saber se você não sabe, Comida foi composta por Arnaldo Antunes e
faz parte do Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, do Titãs, álbum de
1987, quando eles ainda não faziam só música de autoajuda tipo:
“Devia
ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer
Queria
ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração”
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração”
Daniel Castelani, aos 16 anos, escreveu coisas muito melhores, posso te
garantir!
Bem, mas o pior é que
somente a mesma frase martelava minha cabela... como um disco arranhando. Daí, sei lá
porquê, percebi que, na verdade, estava cantando: “Você tem fome de quê? Você
tem MEDO de quê?”.
E então? VOCÊ TEM MEDO DE
QUÊ?
Medo pode ser bom... pode
ser excelente, se consumido em doses corretas. É justamente este sentimento que
nos torna mais prudentes. Quer um exemplo? Em 2000 comprei minha primeira
motocicleta. O medo que tinha então é exatamente o mesmo que ainda tenho toda
vez que vou pilotar. Pode ser só para comprar um pão ali na esquina, meu medo
está sentado no carona, abraçadinho em mim. É ele que constantemente me lembra:
“Man, o pára-choque é o asfalto e o airbag
é o peito. Se ligue!”.
“Mas porque você anda de
moto?”, me perguntam sempre. Bem, combinação da adrenalina de estar sobre duas
rodas com a satisfação de superar o medo é INDESCRITÍVEL!
Há, por outro lado, aquele
medo ruim... que causa angústia, que paralisa, ou que muitas vezes nos leva a
reações impensáveis nas Condições Normais de Temperatura e Pressão.
Tenho medo de gafanhotos.
“Ah, PQP! Que ridículo! De gafanhotos?!”
É. De gafanhoto, sim. Até
porque gafanhoto é um enviado do Coisa Ruim, em forma de inseto. Joel, capítulo
1, versículos 5 a 7, me dá razão:
“Despertem
e chorem, vocês, ébrios, porque as vinhas estão destruídas e perdeu-se todo o
vinho! Um vasto exército de gafanhotos cobre a terra; é demasiado numeroso para
se poder contar; têm dentes tão pontiagudos como os do leão! Arruinaram as
minhas vinhas e descascaram as figueiras, deixando os troncos e os ramos nus e
brancos.”
Viu?
Não foi um exercito de borboletas! Foi de Gafanhotos, caralho! GAFAN – FUCKING
- NHOTOS!
Veja só, meu medo até nome tem: Acridofobia. E me
faça o favor de não confundir com Entomofobia, que é o medo de insetos em geral. Humpf, insetos em
geral! Medo de Joaninha... até parece!
Mas,
nem todo medo é justificável como o meu medo por esse inseto asqueroso enviado
pelo capeta para aniquilar a vida na terra!
Deixa
fazer uma observação importante antes de continuar com a história. Mesmo
podendo soar engraçado, e sei que estou tratando do medo aqui de maneira
jocosa, vale lembrar que fobia é algo sério e em muitos casos é necessária
ajuda profissional. Por isso, na vida real, vamos exercitar a empatia e ter
cuidado, beleza?
Como
ia dizendo: nem todo medo é justificável como o meu medo por esse inseto
asqueroso enviado pelo capeta para aniquilar a vida na terra!
Lembra da minha outra crônica Los 3 Amigos e 2 Cus, onde afirmei que fazer listas de TOP 5 era "além
de bobo, sacal"? Pois vou morder a língua
e farei minha lista de TOP 5 medos mais surreais:
11. Caetofobia, ou medo de pelos. Tem gente que contrata alguém pra
lavar o seu cabelo só pra não pegar nas madeixas!
22. Eisoptrofobia,
ou medo de se olhar no espelho. Huuum... conheço uma pá de gente que compreenderia se sofresse deste medo.
33. Filemafobia,
ou medo de beijar. Isso mesmo, medo de beijo. (Muah!)
44. Deipnofobia, ou o medo de jantar com famílias ou amigos. Fico
me perguntando: Tomar café da manhã pode? E almoço?
5. Onfalofobia,
ou medo de umbigos. Oi? Não sem nem por onde começar!
Contudo,
o melhor de todos não está na lista por ser Hors
concours: É o medo de palavras grandes. Se o cabra mora na Alemanha, tá fodido!
Só pra te dar uma ideia, quando vivi lá, a rua em que morava era
Neustadtcontrescarpe. 20 letras, mermão!
O melhor fato deste medo não é o medo em si.
Mas a ironia do nome designado para definir o medo: Hipopotomonstrosesquipedaliofobia
O “cotchado”
lê e, escaploft, cai morto!
Outra
ironia deste tipo é... sabe quando a pessoa pronuncia os “esses” com a
língua entre os dentes e soa como o som de TH em inglês, tipo THINK, THANK?
Pois bem, em inglês o nome deste distúrbio é uma grande sacanagem: Lisping. Ou,
para que sofre de Lisping, /´lɪθpɪŋ
/.
Palavras me
encantam. Sei que já falei disso... é até um clichê já. Mas clichês são clichês
justamente por serem repetidos. E se são repetidos, algum motivo há, né não?
Por
exemplo, eu acho sensacional a maneira que nós aportuguesamos a pronúncia de
algumas palavras estrangeiras, ao invés de traduzi-las como, por sinal, fazem
alguns países espano hablantes.
Quando “os The Bealtles”, como diria Caetano
Veloso, lançaram A Hard Day’s Night, em 1964, o álbum chegou à querida Argentina
como “La Noche de Un Día
Duro” e Mariah Carey na Espanha é
Maria “Karéi”.
Já naTerra
Brasilis, a gente vai na Méqui Dônaudis” pra comer “Bígui Méqui” só por que lá não vende Rótchi
Dógui”. Se vendesse seria “Méqui Rótchi Dógui”; Na esfera tecnológica, a gente compra um “máuzi” pra usar no “nôti búqui” que, por
sinal, pode dar problema no “sófti ué ou no “Rárdi ué”..e por aí vai. A
lista é infindável.
Nome de
artista? “Brédi Pítchi” “Caterina Zêta Djônis”,
Tôn Rênquis, Dênzeu Uóshitu, “Iscárletchi Iorrânsõn”, “Quêitchi Uínslethi”...
Mas, quando
o assunto é nome de banda... deixa te contar uma história.
Em meados dos anos 1990, um bróder de Salvador completamente aficionado pelo Aerosmith, digo, “Aeroismítch” foi até à finada A Modinha comprar o novo lançamento de sua banda predileta. A Modinha era o paraíso dos aficionados por música... não necessariamente pela qualidade da loja, mas pela carência em variedade deste tipo de estabelecimento naquela época. Chegando lá:
- Opa,
beleza, man? Posso te ajudar?
- Beleza,
você tem o novo DISCO do “Aeroismítch”?
- Rapaaaz,
do “Aeroismítch”, tenho não. Mas, se
você quiser, tenho do “Aeromêidein”.