tag:blogger.com,1999:blog-4348856112943446412024-03-05T01:51:51.327-08:00ON THE RUNlubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.comBlogger35125tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-58883367742386480042011-04-21T17:38:00.000-07:002024-01-03T03:03:56.532-08:00TPM<a href="http://4.bp.blogspot.com/--SqpBNdHXo4/TbDOT8QSmvI/AAAAAAAAAkM/B3_acsElfko/s1600/adao.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 216px; height: 320px;" src="http://4.bp.blogspot.com/--SqpBNdHXo4/TbDOT8QSmvI/AAAAAAAAAkM/B3_acsElfko/s320/adao.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5598201178808818418" /></a>Há um fenômeno muito engraçado aqui em Salvador. Na realidade, talvez seja nacional. Quando se é adolescente, todo adulto é tio ou tia. Na escola, tem o tio da portaria, a tia da cantina, o tio do corredor, a tia da biblioteca...<br /><br />Se vamos à casa de um coleguinha brincar, ou fazer um trabalho de escola, já no primeiro encontro, rola:<br />- Ô, minha tia, cê me dá um copo d’água?<br />Como assim, “minha tia”?! Como assim?!<br /><br />Os pais de minha primeira namorada eram, também, tio e tia. E isso é tão forte que, caso os encontre hoje, quase 20 anos depois, chamá-los-ei de Tioeduardo e Tiarregina.<br /><br />Os amigos dos nossos pais, quando nos são apresentados, já vêm com o título acoplado à alcunha:<br />- Junior, venha conhecer Tiamaricotinha.<br /><br />Tiassolange se encaixa neste caso. Amiga de minha mãe, se conheceram trabalhando na Biblioteca de Alexandria e, desde então, são inseparáveis. Ambas tiveram três filhos: duas meninas e um varão, sendo, este, o do meio. Crescemos juntos e nos chamávamos de primos de consideração. Era ótimo.<br /><br />Tiassolange é uma figura. Comi incontáveis cozidos na casa dela, dormi inúmeras vezes lá e recebi diversas broncas... daquelas que somente os que amam dão. Vale ressaltar que todas muito justas. Afinal, quebrar parte do santuário no corredor com uma bolada porque eu e Fabinho batíamos baba dentro de casa a despeito das ordens contrárias era passível de surra, né não? E logo a Nossa Senhora. PQP, a Nossa Senhora não!<br /><br />Tiassolange é uma das pessoas mais religiosas que conheço. Sempre me agracia com um “Vá com Deus”, “Deus te abençoe” ou algo do gênero. E, apesar de não ser um homem de fé, invariavelmente respondo “Amém”. Não por hipocrisia, mas por respeito à fé de quem tanto amo.<br /><br />Certa feita, comendo um peixe, um pedacinho de espinha enganchou na garganta de Tiassolange, causando um grande desconforto. Comeu miolo de pão, bebeu água, pirão, farinha, mais peixe... nada resolvia. Com o passar do tempo, ela ficou tão avexada que Tiazezé decidiu levá-la a uma emergência hospitalar para ter o fragmento do endoesqueleto daquele saboroso pescado deglutido no almoço retirado.<br /><br />Peregrinaram por três diferentes clínicas, mas nenhum médico deu jeito. Um sufoco. Pouco antes de desistirem, foram ao Hospital Universitário, onde um interno a atendeu. Quando saiu do consultório, feliz e satisfeita, Tiassolange avistou Tiazezé, com o terço na mão, rezando e entoando, alto, cânticos para Nossa Senhora:<br />– Resolveu?<br />– Graças a Deus.<br />– Eu devia ter cantado pra Nossa Senhora ainda na primeira clínica. Nos pouparia tanto trabalho!<br /><br />De fato, admiro e respeito a fé, apesar de desconfiar, a princípio e por princípio, das religiões cristãs. Mas esta é uma outra história. <br /><br />Confesso que acho divertida a crença de que descendemos de Adão e Eva. Essa coisa do Paraíso, do Fruto Proibido... sei não. Pra começar, não podemos respeitar um cara que cobre seu membro com uma folha de parreira. Como assim, uma folha de parreira?! Só pode ser piada divina. Não me admira que Eva tenha ido atrás da cobra.<br /><br />Mas comecemos do começo... que era o verbo. Deus, depois de criar o mundo e os bichos todos, fez Adão à sua imagem e semelhança (e, ainda assim, uma folha de parreira era suficiente). Os bichinhos lá, felizes brincando de médico, enquanto Adão, sob intenso bombardeio dos seus hormônios, sofria com dor de ovo.<br /><br />Percebendo que cometera uma grande injustiça com seu filho, O Todo-Poderoso gerou, da costela do mancebo, Eva, um subproduto do macho. Aparentemente, o tiro saiu pela culatra. A gostosa da Eva deveria apenas fazer companhia ao rapaz, mas, sabe como é... inspirou-se com a cobra e serviu-se do que estava escondido atrás da folhinha. É o famoso “não tem tu, vai tu mesmo”. <br /><br />Assim, cometeram o chamado Pecado Original. E o troço era tão bom que a maionese desandou. Era um tal de atrás da árvore, no rio, na relva, na moita, que O Pai, depois de não ter mais argumentos, resolveu castigar a causadora daquela bagunça e estipulou que, de tempos em tempos, ela sangraria por alguns dias.<br /><br />Bem... mini adiantou, mas, depois de um tempo dando um tempo naqueles dias, Adão criou o primeiro ditado de que se tem notícia: “O bravo marinheiro se aventura até no Mar Vermelho”. E voltaram à rotina de luxúria e pecado. <br /><br />Papai do Céu, então, tentou sua última cartada contra a megera que enlouquecera seu Filho: criou a TPM. Foi aí que o bicho pegou. Nos dias que antecediam a sangria, se Adão desse bom dia, Eva retrucava: “Por quê?!“. Objetos e animais eram arremessados contra o filho do Sogrão; rios de lágrimas corriam sem motivo e, caso tentasse ajudar, Adão era prontamente culpado por todas as mazelas que aconteciam no mundo.<br /><br />Por isso que afirmo: é um erro perguntar às mulheres se elas sofrem de TPM. A pergunta certa deve ser: “Seu marido sofre de TPM?”. Porque vamos combinar uma coisa, garotas: PQP, é foda! Haja paciência.<br /><br />Cheguei ao ponto de sugerir que minhas colegas de trabalho tomassem pílula para ciclarem juntas, pois quando uma está saindo da TPM, outra está entrando. O resultado é que eu passo o mês recebendo patadas. Seria muito melhor concentrar tudo numa única semana e gozar de paz em outras três.<br /><br />Quando minha amiga Duda t. celebrou o aniversário dela em 2010, já no finalzinho da festa, quando restou apenas a diretoria, a TPM, assunto recorrente em qualquer mesa que reúna maridos, esposas, namorados, namoradas, irmãos e irmãs, caiu na roda. Duda, com a veia do pescoço saltando e dedo em riste, dissertava:<br /><br />– Já sou chata normalmente. De TPM, então, fico insuportável... e sobra pra Tavares. Acordo já querendo matar um e qualquer “oi” na hora errada, explodo. E no meio do dia, ainda ligo pro coitado soltando os cachorros, culpando ele pela crise monetária internacional, chorando, berrando... aí, quando ele chega de noite em casa, abre a porta com uma caixa de chocolates.<br /><br />Aproximo-me do marido e cochicho no ouvido:<br />– A isto se dá o nome de sabedoria.<br />– A isto se dá o nome de instinto de sobrevivência.<br /><br /> Texto revisado por Paula Berbertlubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com24tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-6623902197954023222009-06-03T05:43:00.001-07:002009-06-03T06:00:00.257-07:00VIZINHANÇA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs9PN-9Ua3FoPBLpMmqtPquycuWIW3ONbEQmaOyf8N0rMZ9IuVAT7X9_FMbdUWa0AdT7udLr5GAEwG4nlIMwaj0A1ryFAJCIRcOBn9kyfmLUGbKPNvRqjShkHYG4c5kGEDjpXIUIubnc1u/s1600-h/incenso2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5343081689136588866" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 162px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhs9PN-9Ua3FoPBLpMmqtPquycuWIW3ONbEQmaOyf8N0rMZ9IuVAT7X9_FMbdUWa0AdT7udLr5GAEwG4nlIMwaj0A1ryFAJCIRcOBn9kyfmLUGbKPNvRqjShkHYG4c5kGEDjpXIUIubnc1u/s200/incenso2.jpg" border="0" /></a>Oitenta decibéis é o limite de intensidade sonora que o ouvido humano é capaz de suportar sem risco de lesão do aparelho auditivo. A partir daí, os danos variam desde um ligeiro desconforto até perda da audição.<br /><br />Já faz um tempo que ando com um protetor auricular a tiracolo. Cansei de voltar de shows e festas com o ouvido apitando. Mesmo chegando em casa exausto, aquele zunido agudo e intermitente me impedia de dormir.<br /><br />E, na verdade, o que me levou mesmo a tomar esta atitude profilática não foram os enxames de abelhas dentro da minha cabeça enquanto eu rolava na cama, mas uma aluna que tive. Como parte do processo avaliativo do curso de inglês, onde ela fora minha pupila, os alunos, no final do semestre, preparavam uma apresentação oral sobre um tema de sua preferência. Ela, fonoaudióloga e dona de uma loja especializada em aparelhos auditivos, discorreu sobre os riscos da exposição prolongada a altos volumes e possíveis medidas preventivas.<br /><br />No final da apresentação que lhe rendeu a nota máxima, mencionei o zumbido pós-show que me acometia todos os sábados e domingos. Após algumas perguntas mais específicas, Julia disse que eu deveria ser submetido a um teste audiométrico a fim de diagnosticar algum sinistro no meu equipamento receptor de impulsos sonoros.<br /><br />No dia seguinte, fiz a avaliação e, para a minha tranquilidade, nenhuma perda foi detectada. Entretanto, fui alertado que deveria tomar cuidados especiais, pois com a alta frequência em shows de rock, os próximos resultados poderiam ser bem diferentes. Como forma de me estimular a adquirir um novo hábito, ganhei gratuitamente um protetor auricular sob medida.<br /><br />Hoje em dia, fico impressionado com o volume que algumas pessoas escutam som no carro. Parecem trios elétricos. É surreal! Na segunda-feira de carnaval, parei na loja de conveniências de um posto de gasolina para comprar sorvete de chocolate e Coca Zero, pois tinha alugado quatro filmes e estava decidido a assisti-los até a hora de ir buscar Paula, minha namorada, que estava trabalhando na festa momesca. Estacionado bem na frente da entrada principal da lojinha, um automóvel com o porta-malas aberto. Dentro deste compartimento traseiro projetado para carregar volumes, havia caixas de som que ocupavam todo o espaço. Era ensurdecedor.<br /><br />Esses tipos se proliferam como erva daninha. São, em sua larga maioria, homens que supervalorizam seus carros, vivem frequentando as delicatessens de postos de gasolina expondo seus bíceps musculosos, exibindo pesadas correntes no estilo gangster rapper no pescoço, dançando pagode, arrocha e forró, enquanto empunham uma latinha de cerveja, falando alto, ignorando o aviso que proíbe o som naquele estabelecimento e, pior de tudo, impondo o seu gosto musical aos transeuntes.<br /><br />Acredito que há uma relação inversamente proporcional entre a potência do som e a potência dos seus donos. Mas é só uma teoria... Essa questão, porém, só diz respeito a estes ditadores musicais e suas parceiras, ou parceiros. O mais irritante de tudo é a incapacidade de compreender a importância de não invadir os espaços alheios quando se vive em comunidade. Por mim, eles podem acabar completamente surdos, desde que as sessões de audição ocorram no meio do deserto.<br /><br />Confesso beirar a paranoia no quesito “não quero invadir o seu espaço”. Ainda assim, cometo deslizes. Certa feita, comprei dois brinquedos que imitam osso para Sofia e Helga. Tinha sido aconselhado por uma veterinária. Aparentemente, ao tentar roer aqueles pesados pedaços de osso processado, elas estariam prevenindo o acúmulo de placa bacteriana nos dentes. Adoraram!<br /><br />No final do dia, ao chegar em casa, havia um recado me pedindo para entrar em contato a vizinha do apartamento logo abaixo do meu, D. Maria Joana (nome fictício). Nem troquei de roupa e fui lá pessoalmente. A referida senhora, não muito cordialmente, preciso ressaltar, reclamou do barulho oriundo do impacto dos novos brinquedos e o piso de lajotas do meu lar. Antes que eu pudesse tentar argumentar, um trovão ecoou na sala de jantar dela... e vinha lá de cima, da minha casa. Pedi desculpas e garanti que não aconteceria mais. Subi correndo e confisquei a nova diversão das cãs.<br /><br />Nos meses subsequentes, pelos menos três vezes por semana, ao retornar do trabalho à noite, encontrava o meu quarto completamente incensado com o característico aroma da erva maldita. E, cá entre nós, não gosto do cheiro. Chegar em casa e sentir o barrunfo impregnado no lençol, no cobertor e na fronha era foda! Irritante demais. Tudo indicava ser proveniente da janela do terceiro andar, um a menos que o meu. Entretanto, não tinha como provar. Nada contra a tia queimar unzinho. Muito pelo contrário. Mas eu odeio o cheiro.<br /><br />Só tive certeza quando, numa madrugada, acometido pela minha inseparável insônia, resolvi sentar ao lado da janela enquanto tocava violão e fumava um cigarro. Depois do segundo acorde, eis que sobe a fumacinha característica e impregna minhas narinas. Debrucei-me no parapeito, olhei para baixo e me deparei com uma mão feminina, apoiada na janela de baixo, segurando um baseado. A coroa do terceiro andar era maconheira. Ela que sempre entrava sisuda no elevador e mal cumprimentava as pessoas era uma chincheira profissional. Mas por que somente agora, após quase 10 anos de vizinhança, a fumaça começou a invadir meu quarto? A princípio cheguei a cogitar que ela adquirira o hábito tardiamente. Acabei descobrindo por vias transversas, contudo, que a mãe de D. Maria Joana se mudara e havia deixado o apartamento para a filha. Quando os gatos saem, os ratos fazem a festa.<br /><br />Meu primeiro instinto foi o de reclamar. Fazer exatamente como ela fizera. Resolvi, entretanto, depois de refletir um pouquinho, que eu, dentro dos meus princípios de bom convívio social, poderia ser mais tolerante e flexibilizar um pouco. Afinal, fumar maconha ainda é estigmatizante nesse país e ela, uma respeitável cinquentona, estava tendo a rara oportunidade de fazer isso no conforto e segurança do próprio lar. Daquela noite em diante, então, toda vez que saía de casa, eu fechava a janela.<br /><br />Tudo seguia normalmente até eu comprar duas almofadonas para Sofia e Helga. Com esta aquisição, resolvi ensiná-las a somente roer os brinquedinhos confiscados quando estivessem em cima das almofadas. Elas adoravam passar horas afiando as presas e combatendo as placas. Tive o cuidado de adestrá-las no horário do almoço, pois sabia que a senhora do andar de baixo não retornava antes das 18 horas. Não foi necessário muito tempo. Fiquei surpreendido com a velocidade em que se habituaram ao novo comando. Em três dias, estavam educadas. Ainda assim, tinha o cuidado de deixá-las brincar somente sob minha observação.<br /><br />Num fim de semana qualquer, enquanto eu assistia a alguma besteira televisiva, Sofia deixou o osso escapulir da boca. Este escorregou pela beirada da almofadona e tocou a lajota. Em menos de dez segundos, o interfone tocou. D. Maria Joana estava irritadíssima com a barulheira interminável que minhas cachorras faziam, segundo a própria, arrastando um maldito osso por toda a casa. Aí pirei o cabeção! Putaquepariu! A porra do osso resvalou na lajota e a coroa aloprou! Como assim, D. Cinquentona Maconheira Descarada?! Como assim?<br /><br />Respirei fundo, contei até cinco mil, mantive a calma e tentei ponderar, assumindo a responsabilidade do primeiro ocorrido, mas ressaltando que desde aquela época nada mais tinha acontecido, dos cuidados tomados, inclusive do adestramento nos horários em que ela não estava. Ainda desproporcionalmente nervosa, quiçá pela ausência de THC na corrente sanguínea, disse que eu deveria aprender a ser menos egoísta e um pouco como viver em comunidade, respeitando o espaço alheio. Foi a deixa que eu precisava:<br /><br />– Justamente, D. Maria Joana. Também acho de suma importância as pessoas aprenderem a viver coletivamente, serem mais flexíveis e tolerantes para que se conviva mais facilmente com as diferenças.<br />– Então!<br />– Então, não é? Há alguns meses, o meu quarto tem sido impregnado por uma fumaça vinda do seu apartamento, pelo menos três vezes na semana. E a senhora recebeu alguma reclamação? Ao invés de reclamar, fechei a minha janela.<br />– Erm... Veja bem... É que eu gosto de incenso.<br />– Incenso?<br />– É... é incenso.<br />– Sei, sei... pois quando eu era mais jovem também fumei muito desse incenso.<br />– ...<br /><br /><div align="right">Este texto foi revisado por Paula Berbert</div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-26856471731728116162009-05-15T14:17:00.000-07:002009-05-15T14:47:15.806-07:00ANÃO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPhjwZMY4dEodNezGsh6_vN_kdS1rwpajRpo2b8yLaK49xYqYRAeKCe5hz4XPguYjQth1M_GZzifu4f2xVBpuNaK1DTk4jBOuhrZdeDN6XPvIFANmw1HDTw7Z-1wCCSN0ouzqmLSD3Tdnb/s1600-h/an%C3%A3o.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5336164423275058354" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 150px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPhjwZMY4dEodNezGsh6_vN_kdS1rwpajRpo2b8yLaK49xYqYRAeKCe5hz4XPguYjQth1M_GZzifu4f2xVBpuNaK1DTk4jBOuhrZdeDN6XPvIFANmw1HDTw7Z-1wCCSN0ouzqmLSD3Tdnb/s200/an%C3%A3o.jpg" border="0" /></a>Há um conceito equivocado, muito comum entre leigos e alguns linguistas incompententes, de que não se aprende uma língua depois de adulto. Bobagem! Além de diversos estudos sérios atestando o contrário, eu sou a prova viva que refuta esta asneira. Comecei a estudar inglês aos 21 anos e aos 25 já ensinava. Não por ser um gênio, mas por me dedicar com afinco.<br /><br />Estudei na Cultura Inglesa e tornei-me professor de lá em 1999, após ter feito o TTC (Teachers Training Course) com Jackie Sabback que, além de ter sido a minha primeira mestra, foi quem acreditou no meu potencial. Jamais esquecerei as palavras dela ao me comunicar que a escola tinha interesse de que eu fizesse parte do corpo docente. Disse: “Lubis, alguns se esforçam para dar aula. Você já nasceu professor. Isso é uma grande responsabilidade. Abrace essa carreira e aproveite!”<br /><br />Neste 10 anos de casa, muitos professores chegaram, tantos outros foram e, no geral, conseguimos manter um bom clima de trabalho. Obviamente, há os atritos típicos de um ambiente em que 90% dos indivíduos ciclam e sofrem de TPM. Mas nada que distoe do normal.<br /><br />Vez ou outra, surgia um professor chato de galocha, mas que, para a nossa sorte, não durava muito. Lembro de um idiota antitabagista de carteirinha. Odeio esta patrulha panfletária! Se tem uma coisa que me tira do sério (e há incontáveis) é gente que vive importunando a paz dos outros com sua idéias copiadas de livros de autoajuda.<br /><br />Sempre fui um fumante relativamente educado, se é que isso existe. Segurava o cigarro com a mão esquerda, pois uso a direita pra cumprimentar; se fumava antes da aula, lavava bem o rosto, as mãos e ainda mascava chiclete em respeito aos alunos; jamais fumava em frente a crianças e, no trabalho, ia até o jardim para não importunar ninguém.<br /><br />Um dia, ao chegar na sala dos professores, percebi que havia um recado escrito em letras garrafais numa folha A4, pendurado na porta no meu armário, dizendo: “NÃO FUME, ESTOU RESPIRANDO!” Arte de quem?<br /><br />Quase enlouqueci de raiva. Como assim?! Aquele merdinha que só vestia camisa pólo por dentro da calça e não devia comer ninguém querendo me dar lição de moral. Vê se tem cabimento! Não contei dois, peguei uma folha A3 no almoxarifado, escrevi com piloto vermelho “NÃO RESPIRE, ESTOU FUMANDO!” e, com cola cascolar – aquela bem gosmenta que dá um trabalho retado para ser removida – afixei meu singelo cartaz na “mochila fashion que acabei de comprar em SP” do fedelho.<br /><br />PUTAQUEPARIU, mermão! Se não quer fumar, ótimo. Mas, por favor, deixe eu me matar à vontade! Que fumar é nocivo à saúde, todo fumante está careca de saber. Os não-fumantes é que não entendem o quanto fumar é gostoso.<br /><br />“Come to where the flavor is. Come to Marlboro country” é o lema do cigarro mais famoso produzido pela antiga Phillip Morris, fabricante londrina que criou, em 1902, sua primeira subsidiária em Nova Iorque para vender suas marcas, entre elas, Marlboro.<br /><br />Nunca fumei compulsivamente mas fui fiel a este cigarro forte e encorpado de filtro amarelo por 16 anos. Era daqueles que fumam aproveitando o instante, quase como um ritual. Só quem fuma assim consegue dimensionar o que representa um trago no meio da noite quando a solidão bate à porta. Um cigarro bem fumado pode ser uma excelente companhia.<br /><br />Mesmo mantendo uma média de quatro a cinco cigarros por dia, largar o vício foi uma tarefa árdua. Se por um lado tenho um paladar mais apurado agora, por outro, ganhei 15 quilos! Tenho ganas de voltar. Repito, diariamente, que não sou ex-fumante, mas sim um fumante que não fuma. É somente uma estratégia para evitar deslizes. Por experiência própria, sei que um tragozinho de nada é o suficiente para jogar todo meu esforço no lixo.<br /><br />O fato é: fumar é bom pra caralho. Por isso, sucumbir à tentação da nicotina também não é o fim do mundo. Afinal, parar de fumar é fácil, basta apagar o cigarro. Foda mesmo é não voltar! Conheço, a propósito, várias pessoas que voltam para o tabaco depois de já, aparentemente, estarem lidando bem com a maldita abstinência.<br /><br />Com uma querida amiga míope foi assim. Abandonamos o cigarro, coincidentemente, na mesma época. Poucos meses depois, entretanto, me surpreendi ao vê-la acendendo um mata-cachorro qualquer! Senti-me traído!<br /><br />Há de se fazer justiça, porém. O motivo da recaída foi, indubitavelmente, o mais legítimo de todos no mundo mundial! Veja se você não concorda comigo.<br /><br />– Porra, babes, não acredito! Achei que estivéssemos no mesmo barco! Puta que pariu! Como assim, você voltou a fumar? Como assim?!<br />(Na moral, ex-fumante só perde em chatice para ex-mulher!)<br />– Foi mais forte que eu e...<br />– Não me venha com desculpa esfarrapada do tipo “ai, mainha, meu pé ta doendo, meu pé ta doendo!”<br />– Queria ver se você estivesse no meu lugar, se não voltava a fumar também.<br />– Nêga, só queria te lembrar que minha namorada fuma. Eu passo por provações todo santo dia! Nada pode ser pior que isso!<br />– É mesmo? Então se ligue: eu tava trabalhando como produtora de um filme. Meu chefe andava a mil por hora à base de café e cigarro. E eu, na minha, segurando a onda. Não houve um dia sequer que tenha trabalhado por menos de 10 horas. Já tava um caco... nas últimas mesmo. Foi quando num domingo de manhã cedo, tipo umas 7 horas, após ter ido dormir às quatro da matina, meu celular tocou e adivinhe quem era? Meu amado chefinho. Ninguém merece o chefe ligando no único dia de folga! Ainda sonolenta, coloquei os óculos para escutar melhor e tive que ouvir o seguinte: “desculpe, querida, talvez seja um pouco cedo, mas mudei alguns planos da filmagem e preciso que você me consiga, para hoje antes do meio dia, um anão”.<br />– Como assim, um anão, amiga?! Como assim?!<br />– Pois é. Daí acendi um cigarro!<br /><br /><div align="right">Este texto foi revisado por Paula Berbert </div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-63836936524191917282009-04-20T08:03:00.000-07:002009-04-20T08:10:04.227-07:00CINZA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuMOctUQfAS_YHi8GJ5BR3CQJuDlLRIo_JsrjYGip06xlJ7zgswUz3QAcys2FJuPVab2wzF6LqbK2OeJycODOJ0Ub6rA3lyfSOijoYscM4jyLIEpahM7ZZzVMDTW_cEjynUEqF5PDL_pHa/s1600-h/sem+título.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5326790876341773202" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 134px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuMOctUQfAS_YHi8GJ5BR3CQJuDlLRIo_JsrjYGip06xlJ7zgswUz3QAcys2FJuPVab2wzF6LqbK2OeJycODOJ0Ub6rA3lyfSOijoYscM4jyLIEpahM7ZZzVMDTW_cEjynUEqF5PDL_pHa/s200/sem+t%C3%ADtulo.bmp" border="0" /></a><br /><div>Somente a brancura da tua pele<br />ilumina este domingo chuvoso<br />com gosto de sorriso melancólico...</div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-1710035795780147902009-04-16T14:10:00.000-07:002009-04-16T14:16:14.551-07:00I SEE DEAD PEOPLE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYjenlfrzjvath4Xce5ahCUb3Tytaq1AIHlhwYVszOQ90XbjMeiR0c9bhFKVxWVkh0YPcFA0io2o1igfTLkLNlN6KvOcKT0jroH0uEmwDrgMEh_Uu7g_HNUQLw05dWDiFWxb2nF5DlexM8/s1600-h/bremer_stadtmusikanten.jpg"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; FLOAT: right; HEIGHT: 197px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5325399829733534402" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYjenlfrzjvath4Xce5ahCUb3Tytaq1AIHlhwYVszOQ90XbjMeiR0c9bhFKVxWVkh0YPcFA0io2o1igfTLkLNlN6KvOcKT0jroH0uEmwDrgMEh_Uu7g_HNUQLw05dWDiFWxb2nF5DlexM8/s200/bremer_stadtmusikanten.jpg" /></a>Morar na Alemanha é coisa para profissional. Amador não entra. Minha amiga Cris, já muito bem adaptada, tanto à língua quanto ao <em>modus vivendi</em>, que o diga. Suou a camisa até conseguir o equilíbrio entre a baianidade nagô e a germanice de Bremen. Houve um elemento fundamental para o encaixe de duas culturas tão distintas, entretanto: <em>Das Bier</em>!<br /><br />Tive menos sorte, não bebo. Hoje me arrependo profundamente de ter me privado de aprender alemão. Foi a minha maneira de resistir a uma suposta imposição cultural etnocêntrica. Mesmo tendo vivido por quase um ano e meio naquele iceberg germânico, compreendo quase nada e consigo apenas construir frases muito rupestres. Uma pena, uma pena.<br /><br />Meu primeiro professor foi Michal (pronucia-se mirrau), amigo polaco, criado primeiramente em Berlim assim que chegou da terra natal como imigrante e, então, mudou-se para Bremen, onde ainda reside e é casado com Cris. Para falar a verdade, eu os apresentei em meados de 1999, aqui em Salvador. Em função dos imponderáveis rumos que a vida toma, assim que cheguei à cidade dos Saltimbancos (<em>Die Bremer Stadtmusikanten</em>), Michal foi o primeiro a me dar guarida. Jamais esquecerei a minha chegada, naquela noite, à <em>Hauptbahnof</em>, estação central de trem. Estava emocionalmente estraçalhado, com saudade de casa e ainda era inverno. Só quem já vivenciou um inverno de verdade sabe como esse senhor gélido influencia o nosso estado de espírito.<br /><br />Por ter pouquíssimos euros, peguei o trem lento, por isso mais barato... ou seria o mais barato, por isso mais lento? Após quase sete horas de viagem, ao saltar na plataforma, com a mochila pesada nas costas, logo avistei Renezão, amigo de tantas batalhas que também, por outros motivos, andava perdido nazoropa. Logo em seguida, Michal apareceu e os dois me abraçaram forte. Enquanto eu chorava convulsivamente, o futuro marido de Cris disse: “meu irmão, você acabou de chegar em casa”. Ainda me emociono com essa imagem.<br /><br />Lamento tanto tê-lo decepcionado como aluno. Mesmo tendo uma excelente gramática presenteada por meu engajado professor, o aprendiz era relapso. Ele acabou, por seus justos motivos, desistindo de mim. Prematuramente talvez, mas compreendo o quanto é chato acumular as funções de mestre e babá. Acho que jamais o agradeci por ter me ensinado as três coisas mais importantes durante a minha estada por aquelas bandas:<br /><br />1. Torcer pelo <em>Werder Bremen</em>;<br />2. Dizer o meu endereço (<em>Neustadtcontrescarpe neunundzwantig</em>);<br />3. A frase Bombril: <em>Ich bin total bekift</em>, que significa: eu tô chapadão.<br /><br />Caso viaje para algum país falante de alemão, esta frase, exceto quando abordado/a por policiais, pode te livrar de muitas situações. Se te perguntam as horas, reponda <em>Ich bin total bekift</em>, que com certeza a pessoa procurará outrem com um relógio no pulso. Se te pedem informação a respeito de onde fica a Mc Donald’s, olhe ao redor para ver se há o tradicional M por perto. Caso esteja à vista, aponte. Se não, <em>Ich bin total bekift</em> nele! Questionam o seu nome, <em>Ich bin total bekift</em>. De onde você é? <em>Ich bin total bekift</em>, mais uma vez. Se bem que, nesse caso, pode-se inferir equivocadamente que você é oriundo da Jamaica ou Holanda.<br /><br />Depois de quase dois meses abusando da boa vontade de Michal, meu anfitrião, a hora de buscar um lugar para mim já tinha chegado há décadas. Meu desconfiômetro já tinha ultrapassado o limite, apesar de me sentir muito à vontade no cubículo que chamávamos de lar. Comecei, então, a procura por moradia.<br /><br />A primeira que visitei era uma casa de dois andares a duas estações de onde morávamos. Tive a sorte de o proprietário ser um jovem estudante, fluente em inglês, que iria passar uma longa temporada na Argentina estudando tango. Como assim, meu nêgo?! Perdeu o quê na Argentina? Como assim, Argentina?!Enlouqueceu? Lá tá entupido de argentinos...<br /><br />A casa era bem no meio de uma estreita ruela transversal à avenida principal, onde de um lado havia essa série de 18 casas conjugadas e do outro, um muro de aproximadamente três metros de altura, que se estendia por todo o quarteirão. A calçada entre a porta da entrada das casas e a muralha tinha, com certeza, menos de três metros de largura. Meio claustrofóbico. Imaginei que deveria ser macabro durante a noite, pois consegui ver, após um breve rastreamento, somente um poste de iluminação pública no finalzinho da rua, lá na casa da porra.<br /><br />Matze me mostrou a sala de estar, a cozinha e um micro jardim-de-inverno no térreo. No andar de cima, havia um gabinete pequeno, mas confortável, e a suíte com uma varanda surpreendentemente ampla. Foi da varanda que avistei o que estava por trás do muro. O proprietário não parava de explicar alguma coisa que eu já não escutava mais, pois estava vidrado naquilo entre o horizonte e as portas de vidro da varanda. Quando dei por mim, Matze já me pegava pelo braço como se quisesse me tirar de um transe.<br /><br />(ativar tecla SAP)<br /><br />- Sr. Lubisco, está tudo bem?<br />- Hã? Sim, sim, está. Desculpe, estava absorto.<br />- Aconteceu algo, posso ajudá-lo?<br />- Não, não. Tá tudo ótimo. Erm... me responda uma coisa. O que é isso aí na frente?<br />- Um muro.<br />- Eu quis dizer, atrás do muro.<br />- Ah! Acho que me esqueci de mencionar, né? É um cemitério. Algum problema com isso?<br />- Não exatamente...<br />- Ótimo. Como ia dizendo, tenho certeza que o senhor vai adorar. A vizinhança é ótima. São super silenciosos e nunca reclamam do barulho.<br /><br /><br />Este texto foi revisado por Paula Berbertlubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-33773821404711338832009-04-14T09:26:00.000-07:002009-04-14T09:33:21.202-07:00QUERÊNCIA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ7r24N8NzxFMh8LN5bpXRXMTbDVqs6-SdBdCX6WONZcknpAvqBXG7x-_ORIQD1II53SHJTEucq9Y27KZSxNN6xnIZHsfUaE1k1kHYLwGL6yPyBYG2uFIMjrdFBnciMp2pxRQQILm3T5iF/s1600-h/alfazema.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5324585573075359266" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 208px; CURSOR: hand; HEIGHT: 154px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ7r24N8NzxFMh8LN5bpXRXMTbDVqs6-SdBdCX6WONZcknpAvqBXG7x-_ORIQD1II53SHJTEucq9Y27KZSxNN6xnIZHsfUaE1k1kHYLwGL6yPyBYG2uFIMjrdFBnciMp2pxRQQILm3T5iF/s200/alfazema.jpg" border="0" /></a>Nasci em uma casa de telhavã,<br /><div>portas entreabertas</div><div>e cheiro de alfazema</div><div>entrando pela veneziana.</div><br /><div></div><br /><div>Quando me visitares</div><div>- não interessa em que cidade,</div><div>estado ou país -</div><div>pela janela do meu quarto</div><div>sempre entrará o mesmo perfume</div><div>que embalava os meus</div><div>sonhos infantis...</div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-27523645124686308802009-03-16T13:36:00.000-07:002009-03-24T12:01:11.183-07:00NA JANELA AO LADO<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNJbMM-s0OjpC5mWkcnksOyy7EGniCM4hRV6jO_bajWxOeoTqEvlIckd3ls4knnOqzTPWwTsEofCQj7hjkhaCGdzqemiXmglBlF69qJVlfW_al6mQf1F0qnU6B7lBg2heJujnGPiROiivW/s1600-h/JANELA.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5313887760688099410" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 172px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNJbMM-s0OjpC5mWkcnksOyy7EGniCM4hRV6jO_bajWxOeoTqEvlIckd3ls4knnOqzTPWwTsEofCQj7hjkhaCGdzqemiXmglBlF69qJVlfW_al6mQf1F0qnU6B7lBg2heJujnGPiROiivW/s200/JANELA.jpg" border="0" /></a>Depois de assistir a um micro festival de rock aqui em Salvador, resolvi escrever sobre a performance pífia de uma das bandas. Comecei a minha crítica fazendo mea culpa, ao afirmar que sou um velho ranzinza. Gostaria de reiterar: eu sou ranzinza para caralho! Insuportavelmente ranzinza!<br /><br />Entre as zilhões de coisas que me irritam, o senso comum aparece nas primeiras posições. Mais especificamente, a incapacidade de reflexão diante dos fatos e a mera reprodução de um discurso massificado. É importante distinguir um do outro, pois muitas vezes, após refletirmos, o nosso posicionamento coincide com o senso comum. Aí, já era. Não faz sentido também se tornar um rebelde sem causa, não é?<br /><br />É de dar calafrio no espinhaço quando me deparo com pessoas que acreditam que Jorge Vercilo é MPB, Capital Inicial é Rock, a VEJA é séria e Diogo Mainardi, legitimador de verdades absolutas. No geral, são os mesmos que vivem me enchendo o saco com argumentos esfarrapados e sem consistência. E muitos ainda se acham revolucionários, messiânicos, quando são, na verdade, papagaios do mainstream às avessas.<br /><br />Ainda recordo quando surgiu para o grande público, em 1993, a banda Planet Hemp, liderada por Marcelo D2, com o mega hit Legalize Já (Rafael / Marcelo D2). O refrão simboliza, para mim, a síntese da argumentação vazia e, por isso, tira esse velho ranzinza do sério. Diz assim:<br /><br />Legalize já, legalize já<br />Porque uma erva natural não pode te prejudicar.<br /><br />Como assim, não pode te prejudicar? Como assim?! Vá cagar no mato e se limpar com cansanção para ver se uma erva natural não te prejudica. Com certeza, vai deixar a bunda queimadinha e cheia de bolhas em função dos seus efeitos urticantes e vesiculantes.<br /><br />Sinto minha pouca inteligência subestimada à enésima potência! É superficial demais. Chega a ser primário. Completamente compreensível se encontrado numa redação de aluno secundarista - repetente. Mas num texto de um adulto? Pelamordedeus!<br /><br />Não desconheço os valores terapêuticos do THC (delta-9-tetrahidrocannabinol), a substância ativa da maconha. Na luta contra o mal de Alzheimer, por exemplo. Os pesquisadores do Instituto Scripps de Pesquisa, na Califórnia, concluíram que o THC pode ser mais eficaz na preservação do neurotransmissor acetilcolina do que medicamentos vendidos regularmente. Ou ainda para reduzir a pressão intra-ocular em pacientes com Glaucoma. Sei disso tudo.<br /><br />Um amigo meu acredita de pé junto nos poderes milagrosos da ganja para curar gagueira!<br /><br />Certa feita, houve um encontro aqui em casa para se tocar violão, comer petiscos e, principalmente, jogar conversa fora. Lá pelas tantas, quase todos nós a umas duas doses acima do normal, Zé (nome fictício para preservar a identidade do maconheiro) me consultou a respeito da possibilidade de “queimar unzinho”. Ponderei que não seria legal, pois minha irmã, com quem dividia o apartamento, não lidava bem com isso e já estava dormindo no quarto, cuja janela era semi-conjugada com a varanda da sala, onde estávamos. Sem se dar por rogado, contra argumentou:<br /><br />- Man, a ma-ma-maconha curou minha ga-ga-ga-gagueira! Na na na mo-mo-moral, é te-te-terapêutico!lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-11513288956885683512009-03-03T04:50:00.000-08:002009-03-03T05:06:12.295-08:00H.E.L.P.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdL6C3GeUpyKzGc6vPYXSIB41uNCz3t-NyYpwmTkg2nBnhsqP8oBEKmuavg5IxVQ9cSFsX3ELhbbJuM0FzDIUGQROYDjSznoGnqdDU9NmQmD5gdOF0CjvEXnLe7b-l0IvWBkWCxnBH7tun/s1600-h/JS1566298.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5308944261725924226" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 162px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdL6C3GeUpyKzGc6vPYXSIB41uNCz3t-NyYpwmTkg2nBnhsqP8oBEKmuavg5IxVQ9cSFsX3ELhbbJuM0FzDIUGQROYDjSznoGnqdDU9NmQmD5gdOF0CjvEXnLe7b-l0IvWBkWCxnBH7tun/s200/JS1566298.jpg" border="0" /></a>Chegaram a cogitar que minha alcunha fosse uma homenagem aos meus dois avôs. Felizmente, meu pai percebeu que, além de “Humberto Eduardo” soar como protagonista de novela mexicana, o acrônimo do meu nome completo – Humberto Eduardo Lubisco Portella – seria HELP. Acabei sendo batizado só em tributo ao pai de meu pai, o já falecido Vovô Eduardo.<br /><br />Meu Vô Humberto era um homem forte e muito elegante. Oftalmologista, operou até os 65 anos e nunca parou de clinicar. Morreu em Porto Alegre, onde nascera e vivera toda a sua vida, aos 76 anos, em 1º de janeiro de 1989. Eu tinha apenas 14 anos e sofri. Sofri por ver minha mãe chorar e por não ter convivido o suficiente com aquele homem de poucas palavras, mas de muito afeto. Divertia-se com a ingenuidade infantil dos netos. Lembro que quando Nana, minha irmã mais velha, estava sendo alfabetizada, ele implicava com o nome da Professora dela: Pró Glades (pronuncia-se “Gleides”).<br /><br />Meu Vô – Qual o nome de sua professora mesmo?<br />Nana (debruçada sobre o dever de casa) – “Gleides”.<br />Meu Vô – Não, é Glades.<br />Nana (já irritada) - Não é nada. É “Glei-des”!<br />Meu Vô (quase zen budista) - Nada disso. Está escrito aqui, ó: Gla-des!<br />Nana (aos berros) – “Glei-des”, meu Vô! “Glei-des”!<br />Meu Vô (em estado de pré-levitação) – Gla-des, minha neta. Gla-des!<br /><br />Certa feita, estávamos indo a Villas do Atlântico no Fusca cinza de D. Nídia Lubisco, placa AZ-5877. Minha mãe dirigia, Minha Vó ia ao lado dela e, no banco de trás, eu, Nana, Kika – a caçula – e ele, Dr. Humberto, nos espremíamos. Eu, que estava bem atrás da motorista, tive que sentar meio de banda, com um pedaço da bunda apoiado na lateral do carro. Depois de alguns poucos minutos de estrada, reclamei:<br /><br />Eu – Pô, mãe! Tô sentado com a bunda pra cima!<br />Meu Vô (com sotaque de gaúcho) – Então estás de cabeça para baixo, Guri.<br /><br />E gargalhou alto. Essa foi, com certeza, a única vez que o vi gargalhar sem se conter...<br /><br />Não recordo direito se foi no mesmo dia que, ao ouvir alguém chamar um senhor de velho, retrucou baixinho para si próprio: “velho é o mundo”. Confesso que na época, provavelmente em função da pouca idade, não tinha alcançado a profundidade de tão sábias palavras. Para mim, minha mãe era velha, meu pai era velho, o jardineiro da casa era velho, Olga, a babá de Kika, também era velha. Como assim, velho é o mundo?! Como assim?! Porém nada melhor que o tempo para dar significado ao que aparenta ser, em algum momento da vida, nonsense.<br /><br />Eu já estava praticando boxe há aproximadamente quatro meses, já tinha perdido alguns quilos, recuperado um pouco do fôlego perdido para o cigarro e, aos 34 anos, me sentia um atleta! Numa quarta-feira, substituí um colega no trabalho e acabei não chegando ao treinamento a tempo. Corri para casa, vesti a bermuda, a velha camiseta com mangas cortadas, calcei meu All Star preto de cano alto, peguei minha corda, o som portátil de Kika e desci de escada para o playground saltando os degraus de dois em dois, só para aquecer. Chegando lá embaixo, coloquei o álbum Mutter, da banda alemã Rammstein, para tocar no máximo e, me sentido Rocky Balboa, comecei a pular corda. Não sou exatamente um especialista, mas, literalmente, dou meus pulos.<br /><br />Já estava na função há pelo menos vinte minutos quando apareceu um garoto na faixa etária de uns 13 anos. Pouco depois, chegou seu comparsa aparentando a mesma idade e trazendo uma bola de futebol. Imagino que eu estava tomando o lugar designado por eles para jogar um golzinho, apesar do regimento interno do condomínio proibir terminantemente qualquer jogo com bola nas áreas comuns.<br /><br />Ficaram ali, quietos, quase hipnotizados me observando saltitar freneticamente ao som de “Nun liebe Kinder gebt fein Acht / ich bin die Stimme aus dem Kissen / ich singe bis der Tag erwacht / ein heller Schein am Firmament / Mein Herz brennt” , que podia ser ouvido num raio de 15km. E eu, vendo aquela cena de canto de olho, me envaideci. “Devem estar impressionados com a minha velocidade. Tô abafando!”, pensei.<br /><br />Sabe quando você está numa boate com o som ensurdecedor, berrando no ouvido do seu bróder algo sobre a gostosa de minissaia e camiseta transparente dançando bem à sua frente, daí a música pára de vez e todo mundo ouve o seu “GOSTOOOOOOSA AÍ DA FRENTE!”? Sabe? Pois foi o que aconteceu<br /><br />Assim que Till Lidemann, vocalista do Rammstein, abruptamente parou de vociferar nos alto-falantes do portátil de minha irmã caçula, ouvi os garotos arremessarem o seguinte petardo sem piedade alguma, bem direto na caixa do peito:<br /><br />Moleque-Que-Merece-Uma-Surra-de-Cansanção-1 – “Porra! Ó pro coroa! Botando pra fudê!”<br />Moleque-Que-Merece-Uma-Surra-de-Cansanção-2 – “O coroa tá em cima! Arregaçando!”.<br /><br />Como era sábio Meu Vô Humberto.<br /><div align="right"> Este texto foi revisado por Paula Berbert</div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-38664142641783408712009-02-16T23:08:00.000-08:002009-02-19T20:01:27.993-08:00MUITA ESTRELA PARA POUCA CONSTELAÇÃO<div align="left"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1cdbsH8QVPib89yjQkg38yYKN6QVJhNa_iJsqwy_oT5ThldMxbulhbM_reezGE7bwfbCKTrlRFV5iSJY_knPjXU_zWSQMPsuHUjq19BtJ8WMnj8GmOuyiDxaD6WcI7buMfwVYpXciPbL_/s1600-h/two_flying_swans.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5303659913861704578" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 160px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1cdbsH8QVPib89yjQkg38yYKN6QVJhNa_iJsqwy_oT5ThldMxbulhbM_reezGE7bwfbCKTrlRFV5iSJY_knPjXU_zWSQMPsuHUjq19BtJ8WMnj8GmOuyiDxaD6WcI7buMfwVYpXciPbL_/s200/two_flying_swans.jpg" border="0" /></a>Segundo a Sociedade Internacional de Cefaléia, 78% da população mundial é acometida por este mal, comumente conhecido como dor de cabeça. Por azar, não faço parte dos felizes 22%. Ainda sofro com enxaquecas. Porém nada comparado a um passado quase recente que me proporcionou fazer um tour pelo atendimento de diversas salas de emergência em Salvador.<br /><br />Já cheguei ao ponto de, no auge da crise, ingerir quatro comprimidos de Tylenol 750 mg. Loucura total. Absurdo! Só quem sofre com migrâneas pode dimensionar o desespero que é aguardar o remédio dar fim a este tormento.<br /><br />Lembro quando ainda cursava Musicoterapia na Universidade Católica de Salvador e, na segunda semana do terceiro semestre letivo, no final da primeira aula, às 14:40, no Instituto de Música na Av. Carlos Gomes, eu estava prestes a sair correndo até a primeira farmácia com o único objetivo de comprar um medicamento específico para curar-me daquela maldita mazela, quando Michal, uma colega já mais madura e pra lá de esotérica, me pegou pelo braço:<br /><br />Michal - Lubisco, o que aconteceu? Você tá com uma cara péssima, menino!<br />Eu (tentando me desvencilhar) - Minha cabeça tá estourando. Tô indo aqui na farmácia comprar um remédio. Não aguento mais!<br />Michal - Lubisco, Lubisco... Essa coisa de se intoxicar com essa química toda somente macula sua aura e atrapalha seu karma. Tome um chazinho que é natural.<br /><br />Porra de chá! Eu quero é droga pesada pra acabar com esse martírio, pensei. Respirei fundo, educadamente agradeci, voei até o paraíso dos hipocondríacos, comprei o medicamento e um copo de água mineral, ingeri duas cápsulas de Cefalium, voltei para o pavilhão de aulas, deitei no banco de madeira do corredor e, com o caderno a guisa de veneziana, adormeci.<br /><br />Acordei após o final das aulas do período com um sucesso do carnaval baiano do início dos anos 90 na cabeça, cujos autor e intérprete me fogem à memória e nem o Mr. Google sabe: “O índio me deu um remédio pra dor de cabeça / mas o remédio do índio fez a minha cabeça. / Foi chá, menina foi chá / menina, foi chá / menina, foi chá...”<br /><br />A indústria do carnaval soteropolitano mercantilizou a música local, de forma que bandas e artistas que vivem do axé music se esmeram para lançar um sucesso por verão. São canções descartáveis, esquecidas nos meses que seguem a celebração momesca.<br /><br />Atualmente, no carnaval de Salvador, há não apenas hits de verão, mas também bandas sazonais com vida útil curtíssima. A lógica é triste. No geral, meia dúzia de empresários da indústria de entretenimento local lançam “o maior talento de todos os tempos que vai dominar a axé music pelas próximas décadas”. Quem será que leva o dinheiro nessa história?Quem? Quem?<br /><br />A estratégia é de começar com uma banda. Daí, o/a vocalista tem a sua imagem exaustivamente divulgada pela imprensa e, com a influência correta e um pouquinho de sorte, consegue um prêmio qualquer de artista revelação. O resto da banda pouco importa! Quer ver?<br /><br />Quem era a guitarrista da banda As Meninas? E a vocalista?<br />Quem tocava teclado na Rapazzola? E quem cantava?<br />Qual o nome do percussionista da Banda Beijo? E dos dois vocalistas que passaram por lá?<br /><br />Acredito que o fato de não me interessar, em absoluto, pelos bastidores do carnaval, contribua para conseguir lembrar os vocalistas, apenas: As Meninas, Carla Cristina; Rapazzola, Tomate; e Beijo, Netinho e Gilmelândia. Entretanto, mesmo o mais ávido consumidor de música carnavalesca contemporânea deve ter dificuldade de acompanhar a ascensão e queda de tantas estrelas numa mesma constelação. E em Salvador, ignorar astronomia pode ser deveras perigoso...<br /><br />Uma semana antes de abandonar minhas aulas de boxe, já não aguentava mais pagode e axé music tocando durante os 60 minutos de treino. Como assim treinar boxe ouvindo Guig Gheto, Bel Marques e Durval Lélis? Como assim, mermão?! Só se a intenção é instigar o cara pra sair na pipoca do Chiclete, em plena Praça Castro Alves, rumandoladisgraça em quem passar pela frente. Aí sim, tudo faz sentido!<br /><br />Assim que entrei na sala, percebi que não reconhecia o som que vinha dos alto-falantes. Certamente era axé, mas nenhuma voz conhecida. Enquanto alongava, ouvi aquilo atentamente e notei que uma voz masculina, parecida com a de Tatau (ex-Araketu), e uma feminina, parecida com a de Ivete Sangalo (ex-Eva) ou a de Claudia Leite (ex-Babado Novo) – como preferir –, se revezavam. Antes fosse meia voz, pois as duas juntas eram uma ode à bizarrice. Juro que prefiro minha irmã ouvindo Roupa Nova com headphone e cantando aos berros por não se ouvir. E posso garantir que isso não soa nada legal!<br /><br />Lá pelas tantas, quando a tortura auditiva já extrapolara todos os princípios de direitos humanos, fui até o professor, Dói, e perguntei:<br /><br />Eu - Dói, que porra é essa, man?!<br />Dói - Oxe, Lubisco. Colé? Curta aí, vá, relaxe!!<br />Eu - Velho, na moral, eu prefiro um dueto com Bel e Durval cantando. Isso é ruim demais! Qual o nome dessa coisa?<br />Dói - Uma banda nova. VOA DOIS. Vai dizer que você não gosta?<br /><br />Por uma triste infelicidade do destino, naquele exato instante, a vocalista da referida banda adentrou a sala e se prostrou logo atrás desse que aqui escreve, para sua primeira aula. Eu continuei...<br /><br />- Dói, veja bem. Se eu não tivesse nenhum outro motivo no mundo pra não gostar dessa tal VOA DOIS, seria simplesmente por que eles não foram capazes de fazer uma mera concordância verbal. VOA DOIS... VOA DOIS... Como assim, VOA DOIS?! Humpf!<br /><br /><br /><br />Ps.: Para que o leitor desgoste de coisas apenas por motivos que não estejam relacionados à língua e não cometa o crime que cometi, sugiro a leitura de O PRECONCEITO LINGUÍSTICO, editora Loyola, de Marco Bagno.<br /><br />Este texto foi revisado por Paula Berbert </div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-59043180367390864662009-02-13T05:39:00.000-08:002009-02-13T16:57:48.675-08:00NOSTRADAMUS<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8dlD4bQo152oFzWN0PaJ3xwAiiFfyEXnaDod-PSPrVZu8YNNHD65x9IdaeAh_ZQNd48KCC6yGESn3KYAGxTnhFe43dy1YLgJ3Vnyia9q7pBUrNk-FPsFbQF4HoyydAi71oO1oXIWFI-fT/s1600-h/1199715197_f.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5302278224419323250" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 150px; CURSOR: hand; HEIGHT: 200px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8dlD4bQo152oFzWN0PaJ3xwAiiFfyEXnaDod-PSPrVZu8YNNHD65x9IdaeAh_ZQNd48KCC6yGESn3KYAGxTnhFe43dy1YLgJ3Vnyia9q7pBUrNk-FPsFbQF4HoyydAi71oO1oXIWFI-fT/s200/1199715197_f.jpg" border="0" /></a><br />Quem diria? Esse post foi originalmente publicado em 07 de janeiro de 2008 no meu fotolog (<a href="http://www.fotolog.com/lubisco">www.fotolog.com/lubisco</a>). A sequência, para facilitar a compreensão dos desavisados, é a seguinte:<br /><br />1.Texto meu<br />2. Réplica de D. Paula<br />3. Tréplica minha.<br /><br />Era sexta-feira à noite, nada interessante pra fazer,<br />Talvez assistir Globo Repórter Especial na TV.<br />Dei (lá ele) uma olhada no jornal atrás de novidade,<br />Algo de novo acontecendo pela cidade.<br />Mas a impressão é que nada acontecia<br />Justamente em Salvador, a cidade da magia.<br />Ok, exagero meu. Se quisesse na jaca meter o pé,<br />Podia pagar pra ver o show do Parangolé.<br />Shows desse tipo, entretanto, não vou amiúde<br />Pois acredito que fazem muito mal a saúde.<br />Permaneci pensando, então -eterna labuta-<br />Quase sucumbindo a um tédio filho da ....<br />Estava disposto a pegar a moto, até ir tomar um vinho<br />Só pra não ficar em casa me deprimindo sozinho.<br />Foi quando tocou o telefone e era o meu amigo Xandão<br />Convidando-me pra aparecer no Balcão.<br />Justamente onde tinha passado meu reveillon,<br />A BANDA DE ROCK estaria fazendo um som!<br />Saltei da poltrona, não contei conversa<br />E me arrumei em poucos minutos com muita pressa<br />Pois, incrivelmente, no momento atual<br />Ainda existe um banda relativamente pontual,<br />E também eu já estava certo que o meu dia<br />Necessitava ao menos uma boa melodia<br />Para que eu fosse, finalmente, dormir em paz<br />Pois axé, pagode e arrocha eu não aguento mais.<br />Na mesma mesa: Renaty, Nanda e Xandão...<br />Uma overdose de amigos pra esse velho coração!<br />Eu estava emocionado, bobo que sou,<br />Com as pessoas que amo além do bom e velho rock n roll!<br />E naquela noite, ainda sentado à mesa<br />Fiquei feliz com a grata surpresa<br />De que a melhor banda de rock do mundo (há quem jure!!!)<br />Teria o retorno de Ricardo Cury.<br />Foi quando vi chegar, entre todas, a maior Casacadurete:<br />Ninguém mais ninguém menos que Paula Berbert!<br />Educadamente falou com todos e sentou ao nosso lado<br />Chamou o garçom e pediu logo um destilado!<br />Um drink aqui, outro acolá<br />E eu pensando: quero ver onde isso vai dar!<br />De repente, levantou-se como se fosse sair<br />Mas que nada! Sem qualquer medo de cair<br />Num rompante, sem eira nem beira,<br />Suspendeu o vestido e pulou pra cima da cadeira!<br />Alheia aos amigos que permaneciam se preocupando,<br />Paula, com passinhos seguros e leves seguia dançando.<br />Dois rapazes espertos, nada trouxas,<br />Ficaram boquiabertos com o par de coxas<br />Aparecendo por baixo daquele vestido<br />Que com uns 50cm a mais tornar-se-ia apenas semi-comprido!<br />O mais interessado te todos no ocorrido, entretanto,<br />Estava ali, sentadinho ao lado, bem no canto<br />Aproveitando, de forma sucinta e apropriada o grato ensejo<br />Para expressar, em nome de todos os homens, por Paulinha, desejo!<br />Vocês, leitores, não acham que diante da deusa, nosso querido Xandão<br />Mais se assemelha com um fofíssimo cachorro pidão!?<br /><br />RÉPLICA<br /><br />Era sexta-feira à noite, eu do outro lado da cidade<br />Doida para ir ao Rio Vermelho matar a saudade<br />Minha Primoca estaria lá com os amigos<br />Entre eles o cara que “eu já gosto”, o tal do Lubisco<br />Cheguei feliz e contente e me aproximei<br />E uma singela dose de vodka eu solicitei<br />Uma apenas, umazinha só<br />Só para aquecer e a festa ficar melhor<br />E no impulso natural que no meu sangue corre<br />Levantei-me para dançar – nada a ver com porre!<br />Querendo manter a honra e a tradição<br />Subi na cadeira, com meu copo na mão<br />Apenas uma cena ingênua, como podem notar<br />Passinhos de danças, risos e poses pra fotografar<br />O vestido era curto, mas nem era esse exagero!<br />Estava tudo bem coberto, nao me deixe em desespero<br />O bom comportamento reinou com maestria<br />Nada que não fosse simples expressão de alegria!<br />Xandão, bom ator, criou a cena ao meu lado<br />Para virar foto engraçadinha, tudo bem montado.<br />Agora abro a internet e me deparo com a surpresa<br />Depois da gargalhada, retribuo a gentileza<br />Cheguei a pensar se me sentia homenageada,<br />Se morria de vergonha ou se ficava aqui chocada<br />Mas, na real, caretice não é comigo não<br />E eu vejo tudo isso com enorme emoção!<br />Agora que consegui parar de chorar de rir<br />Venho cheia de orgulho registrar aqui:<br />Eu sou mesmo uma pessoa muito privilegiada<br />Por ter ao meu redor tanta gente inspirada<br />Obrigada pela homenagem, Lubisco e Primoca queridos<br />Obrigada tambem a Xandão, assistente preferido<br />Me despeço feliz e emocionada, me sentindo A famosa<br />Na torcida de que venham muito mais noites deliciosas!<br /><br />TRÉPLICA<br /><br />Ora, ora quem diria!<br />Disso realmente não sabia!<br />Além da perna atlética<br />Paula tem uma veia poética!<br />Mostrou-se muito hábil<br />Com rima fluida, divertida e ágil.<br />Porém, tão ruim como sentir fome<br />É conseguir rima para o meu nome.<br />Humildemente, Paulinha, estendo a mão<br />E deixo aqui uma pequena lição:<br /><br />Não fazia sol, caía um leve chuvisco.<br />E um amigo meu, que rompera o menisco<br />Ficava em casa fazendo rabisco<br />Vendo televisão e comento petisco.<br />De comer tudo e tanto, menos marisco<br />- Sempre refogado com tempero Arisco -<br />Ficou grande como um obelisco.<br /><br />Brincadeiras à parte,<br />Aproveitemos esse pé na arte!<br />Que se divulgue no ATARDE, ISTOÉ e VEJA<br />O nascimento de uma dupla nada sertaneja<br />Pronta pra, sem modéstia alguma, dar aula.<br />Abram alas, Senhoras e senhores, a Lubisco & Paula.lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-21163762807762952602009-02-03T21:14:00.000-08:002009-02-03T21:48:32.834-08:00SUBMARINOS E AFINS<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYAjV8wW4ZkH6KSCYZ9ht11DsYfRfd04b-rSbeIQEES1V5w_fQ4zVGPxNjRm6v1GSygkcQ9aigG0Z94SCBseRgeLx3p6CppGNsxCt-ThqV_254kLIMi2H1LatKra4jnxNvkUb0gs2Ps3wB/s1600-h/drikaII.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5298810182618214194" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 190px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYAjV8wW4ZkH6KSCYZ9ht11DsYfRfd04b-rSbeIQEES1V5w_fQ4zVGPxNjRm6v1GSygkcQ9aigG0Z94SCBseRgeLx3p6CppGNsxCt-ThqV_254kLIMi2H1LatKra4jnxNvkUb0gs2Ps3wB/s200/drikaII.JPG" border="0" /></a>Já tinha ouvido de várias pessoas, cujas opiniões respeito, que o seriado Heroes, veiculado pela Universal Channel, era espetacular. Relutei um pouco em acompanhá-lo por basicamente dois motivos: 1. não sou muito afeito a super-heróis; 2. a série já estava na terceira temporada quando cogitei a possibilidade de começar a assisti-la.<br /><br />Entretanto, Paula, certo dia, do nada, surgiu porta adentro, num rompante, dizendo que acabara de achar o DVD com a primeira temporada completa de Heroes, que Zeca havia copiado pra ela. Assisti ao primeiro episódio e, fudeu, fui fisgado imediatamente.<br /><br />Verdade seja dita, adoro séries de TV. Assisto de tudo, sem preconceito. Até as produções de qualidade duvidosa, acompanho, no mínimo, alguns capítulos, para formar uma opinião e então decidir se descartarei ou não da minha grade de programação televisiva.<br /><br />Ainda ontem, assisti a Monk. PUTAQUEPAIRU, que coisa tétrica. Se melhorar muito, muito mesmo, fica somente ruim! Pelo que entendi, deveria ser uma trama de investigação mesclada com comédia, na qual o detetive, Mr. Monk, consegue resolver os crimes no final, a despeito da sua atrapalhação. Infelizmente, pareceu-me que os roteiristas e o diretor ficaram perdidos e não galgaram sucesso nem como uma série investigativa nem, tampouco, de comédia. O capítulo a que assistimos acontecia dentro de um submarino. A graça deveria girar em torno da claustrofobia do protagonista e das alucinações que o faziam conversar com seu ausente psiquiatra. Mas tudo isso afundou...<br /><br />Assim também foram vários matrimônios. Meu amigo e padrinho Leo, na porta da igreja, minutos antes de o meu casamento ter início, pegou-me pelo braço e profetizou, sussurrando no meu ouvido: “casamento é igual a submarino, pode até flutuar, mas foi feito pra afundar”. Na mosca. Precisão cirúrgica!Até hoje, peço a ele as dezenas para a MEGA SENA.<br /><br />Quando fui convidado por Adriana e Julio para “dizer algumas palavrinhas” no casamento deles, confesso ter pensado em parafrasear meu profético padrinho. Entretanto, mesmo sendo um casamento descontraído, numa oficina, achei que não seria apropriada uma brincadeira que desse qualquer tom pessimista à celebração. Sendo assim, aproveitando que tinha sido testemunha ocular dos primeiros minutos deles juntos, resolvi, para não agourar o casal, contar a história da gênese do relacionamento. E foi assim:<br /><br /><strong><em>A idade vai chegando, cai o cabelo, falha a memória<br />Mas vou tentar relembrar o primeiro dia dessa história<br />Deve-se ter muito claro de antemão<br />Que essa é somente a minha versão<br />Outros detalhes aconteceram com certeza<br />Mas não devem ser colocados, assim, em cima da mesa.<br />Julio tinha recém se mudado<br />Para um novo apê, aqui ao lado.<br />Adriana, menina esperta que não é abestalhada,<br />Aproveitou para aparecer assim que foi convidada!<br />É que Julio tinha chamado uns amigos para comemorar<br />O apartamento novinho em folha que acabara de alugar<br />E sabido que é<br />Tratou de chamar um monte de mulher.<br />Ok, confesso: “um monte” é exagero<br />Mas uma história que se preze há de ter tempero.<br />Voltando, então, Julio que não é nenhum banana,<br />Chamou poucos amigos... entre eles, Adriana!<br />Eu, da janela, num sofá meio desconfortável<br />Assistia aos dois levando um papo muito agradável<br />Julio tinha lido o manual! Fazia tudo no maior capricho:<br />Um sorriso aqui, uma bebericada ali, um cochicho<br />A noite avançava, bebia-se vinho, comia-se queijo<br />E tudo conspirava para o primeiro beijo...<br />Lá pelas tantas, se dizendo cansada,<br />Drika anunciou uma passagem marcada.<br />Deveria ir embora, pois ficar mais não podia<br />Já que seu vôo era cedo, bem cedinho no outro dia.<br />Julio, espertíssimo, nada morto<br />Logo se ofereceu para levá-la ao aeroporto<br />Propôs, ele: “quer que eu te leve de motocicleta?”<br />Respondeu, ela: “Na sua garupa, vou até de bicicleta".<br />Pausa, olhares, mais um gole de vinho<br />E Drika lançou seu irresistível biquinho!<br />Eu, de camarote, percebi naquele momento<br />Que vinho + biquinho = casamento!<br />Há quem acredite em ciência, simpatia, na lei da atração<br />Pra explicar o imponderável desejo do coração<br />Prefiro simplesmente admirar a beleza<br />Dos encontros promovidos pela natureza:<br />O primeiro raio de sol anunciando o amanhecer,<br />Ou o perfume da grama molhada ao chover<br />Seja da serenidade do rio com a braveza do mar<br />Ou de duas pessoas que resolvem se amar.<br />Aproveito, então, o grato ensejo<br />Para expressar meu mais profundo desejo:<br />Que essa comemoração de hoje, essa nova realidade<br />Seja regada diariamente com muita felicidade.<br />Só uma última palavrinha dedicada a vocês<br />Para acabar com esse falatório de uma vez:<br />Meu querido Julio, minha amiga linda Adriana,<br />Alimentem o espírito, mas não se esqueçam da vida mundana.<br /></em><br /></strong>Antes tivesse parafraseado o meu padrinho....<br /><br />P.S.: Agradecimento especial a Adriana, que não somente autorizou, mas também estimulou a publicação desse texto.<br /><br />Este texto foi revisado por Paula Berbertlubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-81929002972833030452009-01-20T15:58:00.000-08:002009-01-20T17:04:38.173-08:00KURT COBAIN x JIMI HENDRIX<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTYfBp3F64c-3R2yQQEnMVx3845jEa_1Y8RYoWmORqwd1iBCwz4uzhSH4SjoE6ZMhsixuum7LDPePNbt-BQVM1TNEtSRETmVm6U0m9aRF3O_l4J7_CH7WzekF8WP9vLK9iQ1PT4XGkZYhq/s1600-h/maquina.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5293529604145595570" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 194px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTYfBp3F64c-3R2yQQEnMVx3845jEa_1Y8RYoWmORqwd1iBCwz4uzhSH4SjoE6ZMhsixuum7LDPePNbt-BQVM1TNEtSRETmVm6U0m9aRF3O_l4J7_CH7WzekF8WP9vLK9iQ1PT4XGkZYhq/s200/maquina.jpg" border="0" /></a> Tudo aconteceu muito rápido. Era início da década de 90 do século passado, Seattle apresentava uma alternativa para quem já não agüentava mais aquele rock xurumela do Aerosmith. Alice in Chains e Soundgarden eram minhas bandas favoritas, apesar de ter sido o Nirvana que abriu as portas do grunge para mim.<br /><br />Ainda lembro quando, em 1991, Irmão Carlos (hoje vocalista da banda Irmão Carlos e o Catado) apareceu em nossa sala, na extinta Escola Teresa de Lisieux, com um LP que estampava na capa a foto de um bebê submerso como se seguisse uma nota de 1 dólar estadunidense presa a um anzol. Ele estendeu o braço empunhando o vinil e, sério como poucas vezes o vi, disse: “você tem que ouvir essa porra! Logo!”<br /><br />Em pouco tempo, já estava andando com camisa quadriculada de flanela amarrada na cintura, tênis surrado e patches das bandas prediletas costurados no jeans. O cabelo, obviamente, fugia de tesouras ou qualquer objeto cortante que ameaçasse seu casamento com a lei da gravidade.<br /><br />Eu faria 17 anos em junho daquele mesmo ano e, por não ter tido nenhum contato com rock’n’roll em casa, corria desesperadamente em busca de novas referências musicais, pois já me achava um velho. Talvez por causa dessa sede insaciável, cometi um grave erro que mudou o meu comportamento por anos a fio. Confesso que ainda trago alguns resquícios daqueles dias. Hoje, entretanto, manifestados de maneira bem mais sutil.<br /><br />Numa semana qualquer de 1991, assisti na casa de Duda – minha namoradinha – ao filme The Doors, com Val Kilmer interpretado Jim Morrison. O queixo caiu! Logo depois, ainda na companhia da minha, então, amada, com uns três dias de intervalo, assisti a uma cópia VHS, feita de fita para fita, do documentário sobre Woodstock. Pirei o cabeção.<br /><br />Se por um lado conheci Jimi Hendrix, Janis Joplin, The Who, Ritchie Heavens, e Joe Cocker, por outro, o vestuário grunge perdeu espaço para calças de Bali – tão coloridas que poderiam ser usadas por um palhaço em dia de circo –, braceletes, gargantilhas, anéis de prata, sandálias de couro compradas na Barroquinha, ou de pneu compradas em Lençóis, batas, bolsa feita em tear, no estilo carteiro, e, o pior de tudo, o símbolo do PAZ E AMOR tatuado no ombro direito. Sem contar o fato de ter cursado 5 dos 9 semestres de Musicoterapia, além de fumar o cigarrinho do capeta para expandir a mente e alcançar outro nível de percepção da realidade tolhida pelas convenções sociais retrógradas, opressoras e hipócritas. Eu estava pronto para fazer a revolução e, com certeza, não estava sozinho.<br /><br />Hoje, continuo ouvindo rock, ainda acredito em princípios de liberdade e igualdade – apesar de entender que as vias podem ser outras –, mas me visto basicamente com calça jeans e camiseta, não expando a mente há pelo menos 5 anos e o PAZ E AMOR do ombro foi coberto por outra tatuagem, como 99,9% dos meus amigos que se tatuaram na adolescência fizeram, os meus cabelos estão curtos e... caindo.<br /><br />O processo de cortar o cabelo não foi tão simples. Na verdade, eu tinha um apego quase doentio às minhas madeixas. Por um bom tempo, achei que a minha beleza se resumia aos meus sedosos e longos fios castanhos. Tinha certeza absoluta de que, se eu os cortasse, ninguém se interessaria por mim. Parecia loucura e, de fato, era.<br /><br />Com o passar dos anos, percebi que não precisava agradar a todos nem, tampouco, que os meus atributos físicos seriam responsáveis por atrair pessoas para perto de mim. Foi um alívio entender o quanto boas idéias podem ser mais eficientes do que um abdômen de tanquinho ou um bíceps proeminente.<br /><br />Claro que adoraria ter um físico de Apolo, porém agora já sei que se eu malhar muito e, talvez, com ajuda de uma lipoaspiração consiga entrar no padrão Globo de novos “talentos”. Boas idéias, entretanto, não se conseguem em academias.<br /><br />Ainda lá, na minha recém pós-adolescência, resolvi treinar Jiu-Jitsu. Não tinha a menor pretensão de virar um troglodita de orelha inchada que vive procurando brigas em boates e festas. Treinava para mim. Tanto que, mesmo com a pressão do Sensei, Charles Greice, jamais participei de campeonatos. Só queria ter mais noção corporal, fazer uma atividade física e, em caso de emergência – coisa que nunca aconteceu –, me defender.<br /><br />O cabelo abaixo do ombro, quase na altura do peito, atrapalhava. Fiz trança, rabo-de-cavalo, coque e até usei toca de natação para treinar, mas nada dava jeito. A cada treino, chumaços eram impiedosamente arrancados durante os combates. Na época, eu lutava de segunda a sexta, durante três horas por dia. Pelos meus cálculos, em menos de um ano eu estaria completamente careca somente em função dos treinos, já que a calvície, típica da família Lubisco, ainda não se manifestara.<br /><br />Pois bem, foi durante uma visita à minha família em Porto Alegre que tomei coragem e, sem avisar a ninguém, com o auxilio de meu primo Daniel, irmão de Xande, passei a máquina 4 na cabeça. Foi um corte, sem metáfora alguma, radical. De longos fios que passavam dos ombros para quase careca. Ainda recordo meu choque diante do espelho. Só não chorei desesperado porque Dani, provavelmente, percebendo o meu semblante de horror, disse:<br /><br />– Bah, Negão! Tá tri a-fu! (em Porto, tudo é abreviado. Fim de semana é finde; churrasco é churras; chimarrão é chimas e “a fuder” é a-fu.)<br />– Vo-vo-você a-a-acha?<br />– Tu vai ver, Negão. Sucesso garantido. Deixou de parecer pelotense e tá com cara de macho da fronteira.<br /><br />Ainda não muito convencido, fui me submeter ao primeiro teste: minha vó Ilka, mãe de minha mãe, viúva de meu vô Humberto. Ela morava, e ainda mora, num pequeno e confortável apartamento na Anita, perto da Praça da Encol, a uns 100 metros da casa de Tia Hedy, mãe do auxiliar de cabeleireiro e motivador.<br /><br />A sensação da brisa no couro cabeludo foi a minha diversão durante o trajeto. Ao chegar, pedi para o porteiro interfonar me anunciando, peguei o elevador e, até chegar ao 9º andar, não consegui desgrudar os olhos do espelho, encarando aquele estranho.<br /><br />Toquei a campainha e ouvi a voz rouca de minha vó dizendo que já vinha. Ouvi também Êda, a fiel escudeira, perguntado se não era melhor que ela, Êda, abrisse a porta, pois Dona Ilka, com a dificuldade de locomoção devido ao sobrepeso e aos dois joelhos operados, demoraria muito para se levantar do sofá e alcançar a porta. Minha Véa Vó, com a chamo carinhosamente, meio impaciente, insistiu:<br /><br />– É o meu neto, eu abro. Ele não vai se importar de esperar.<br />Estava certíssima. Esperaria séculos para vê-la, se preciso fosse. Minha vozinha, querida.<br />Alguns poucos minutos se passaram até eu ouvir a chave girando na fechadura e, vagarosamente, a porta de abrir:<br /><br />– Tcharam! Gostou?<br />– Ai, meu Deus do céu! Você está tão... tão... tão limpo!<br />– ...<br /><br />Como assim “tão limpo”, minha Vó?! Como assim?!<br /><br /><br /><br /><div align="right">Texto revisado por Paula Berbert </div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-13350337648616733672009-01-02T11:39:00.000-08:002009-01-02T11:50:23.712-08:00FÉ<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkM7PsDNx9OWlgfS6BNcJ6QeWm7EzZ6sVMa4Av3tHnkRqJi51YuFmta_isW0O2WAxljVp0U11WGC-qhajfP_xIkbMFwSe6JEmGMSXqEXXcoHOiwsOTLg-grq065CWPyVzi61MO7CfUwGTL/s1600-h/cavalo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5286783867374484130" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 157px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkM7PsDNx9OWlgfS6BNcJ6QeWm7EzZ6sVMa4Av3tHnkRqJi51YuFmta_isW0O2WAxljVp0U11WGC-qhajfP_xIkbMFwSe6JEmGMSXqEXXcoHOiwsOTLg-grq065CWPyVzi61MO7CfUwGTL/s200/cavalo.jpg" border="0" /></a>Na sexta-feira passada, fui ao Póstudo – talvez o único bar realmente tradicional da capital baiana – com Paula e, por acaso, encontramos dois grandes músicos nascidos na República da Cidade Baixa: Alexandre, baterista de uma influente banda local de surf music (com grande influência do carnaval russo), e Silvano, baixista que hoje mora em São Paulo e toca com o maior expoente do rock soteropolitano, em nível nacional.<br /><br />Conversamos longamente, aproveitando cada minuto daquele encontro fortuito. Discorremos sobre filhos, casamento, divórcio, pais separados, fusca, a vida na Paulicéia, rock e, para o meu deleite, sobre o depoimento de Silvano no ainda inédito DVD do Cascadura (Efeito Bogary).<br /><br />Há poucos meses, me dedicara à tarefa de traduzir para inglês todos os depoimentos e trechos de música desse registro audiovisual que fecha o ciclo de quase três anos do álbum Bogary. Foram mais de dez horas ininterruptas de trabalho para vencer os 50 minutos do documentário. Tarefa árdua, mas muito prazerosa por me permitir, em primeira mão, ver os grandes nomes da minha geração fazendo história.<br /><br />E ali estava Silvano, bem na minha frente. Ele, que era protagonista de um dos trechos que mais me emocionaram, bem ao meu alcance para contar os detalhes do dia da gravação, dos sentimentos, o que foi cortado pela edição, entre outras curiosidades. Ele contou. Respondeu minhas perguntas. Divertiu-se revivendo as próprias histórias e me fez rir. Ri muito mesmo!<br /><br />Quando já estava se despedindo, Silvano pediu o número do meu celular:<br /><br />- Me dê seu celular aí, vá.<br />- Quero deixar bem claro que posso até fornecer o número do celular, mas dar, jamais. Eis um verbo que não conjugo na 1ª pessoa em nenhum tempo verbal.<br />- Verdade. Certíssimo! Forneça aí, então, vá!<br />- Blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá.<br />- Ô, Lubisco, você tem nome?<br />- Lubisco já é um nome, porra!<br />- Entenda, velho: um nome... nome de verdade. Pra colocar na agenda.<br />- Eduardo. Eduardo Lubisco.<br />- Acho melhor Lubisco. Nunca saberei quem é Eduardo.<br /><br />Nomes incomuns sempre chamaram a minha atenção, principalmente por não compreender como alguns pais, diante da recém-parida cria, eram capazes de escolher coisas tipo Ubatan.<br /><br />Quando eu era aluno de Professora Helena, da 4ª série C, tive um colega batizado com esta alcunha. O coitado sofria por causa do nome, viu? Como crianças podem ser cruéis. Chamávamo-lo de Cubatão, fazendo referência à cidade paulista que, na época, era considerada a mais poluída do mundo. Além de os nomes soarem, de alguma forma, parecidos, Cubatão, ou melhor, Ubatan, não era muito chegado a banhos. Diversas vezes um odor meio estranho emanava daquela pele branco-encardida. Se tivesse cor, aquele cheiro seria cinza, igual aos joelhos dele.<br /><br />Com o passar do tempo, percebi que os pais de meu encardido coleguinha não foram dos piores em matéria de escolher nome. Tive, ao longo da vida, contato com pessoas cujos nomes poderiam ser, facilmente, confundidos com malogro de magia negra.<br /><br />A lista é interminável e pode ser subclassificada em categorias distintas, como, por exemplo, nomes de inspiração hippie. Tenho uma prima distante chamada Flor, namorei com Manhã, troquei idéia com Sereno e vi uma colega de colégio, após ter se mudado para o Vale do Capão, batizar o próprio filho de Raio. Perceba que sonoramente muitos deles são agradáveis, mas, pelamordedeus, chamar um recém-nascido assim é sacanagem. O pobrezinho sequer pode se posicionar contra.<br /><br />Outra categoria muito comum é a junção de dois nomes para formar um terceiro. A lista a seguir não se trata de ficção. Todas estas pessoas existem e, com certeza, já passaram por algum tipo de terapia para superar tamanho trauma:<br /><br />Raimundo + Wanilda = Rayvani<br />Hildete + Mário = Hildemar (é uma mulher!)<br />Francisco + Alba = Franalba<br />E as duas irmãs que, por terem um pai que amava o próprio nome e uma mãe que idolatrava nomes “estrangeiros”, ficaram assim:<br />Fernanshirley e Fernancheise.<br /><br />Tem os que, não contentes com a própria miséria, eternizam poluições sonoras ao alcunhar o herdeiro com um nome que já passa há gerações através de Filhos, Juniores, Netos e até Bisnetos.<br /><br />Minha amiga Martinha namorou um Gorgônio Filho. Nana, minha irmã mais velha, foi colega de Próculo Junior. Na moral, se eu fosse juiz e chegasse às minhas mãos um caso com qualquer um desses dois sendo acusado de abrir fogo contra inocentes numa sala de aula, eu procuraria um atenuante. Puta que pariu, mermão. Um cara que cresce sendo chamado assim tem o direito de perder o controle e atentar contra a vida de qualquer um, estando previamente justificado.<br /><br />E tem, claro, aqueles nomes que são meros frutos do gosto duvidoso. A mãe de Próculo, que foi minha professora de geografia da sexta série, chama-se Zoraide; a cunhada de minha avó paterna é Zenóbia; uma das grandes amigas de Tia Zenóbia é Zínia; o ex-porteiro do condomínio Pedras da Colina, Eisenhauer Motta; e o campeão do mundo mundial, o professor de geofísica da UFBA, Telésforo.<br /><br />O nome, entretanto, que até hoje me causa arrepio no espinhaço é o de uma das quatro irmãs de minha Vó Diva. Não pela sonoridade em si, Tia Armida, mas basicamente por dois motivos: 1) a inexistência da capacidade de abstração nas criaturazinhas humanas durante a primeira infância; 2) a inabilidade de Tia Armida em expressar seu bem-querer por mim. A única recordação que tenho dela é quando ia para a casa da minha Vó Diva e ela, sorridente, dizia:<br /><br />- Diva, pega um saco de Paes Mendonça que eu vou levar esse menino pra morar comigo!<br /><br />Eu tremia ao imaginá-la me colocando dentro daquele típico saco de supermercado, ainda em papel pardo com letras azuis-marinho. Tadinha! Mesmo agora, já falecida há mais de duas décadas, quando lembro, tenho calafrios. Não recordo de sua fisionomia, mas a sensação de pavor ainda me surpreende de vez em quando.<br /><br />Tia Armida nunca teve netos, talvez por isso amasse tanto os três da irmã mais nova. Assim também era Dona Lúcia. Sonhara com uma neta que jamais veio, mas conseguiu realizar-se com Paula, a filha mais nova de sua sobrinha. Paula, por sua vez, de bom grado, aceitou aquela terceira avó. A amava de verdade.<br /><br />Invariavelmente no caminho da escola para casa, pedia para ficar na “casa de Vó Lucia”. Desafortunadamente, nem sempre era possível, mas, quando o era, Paula e Lúcia ganhavam o dia. Brincavam horas a fio como se na sala houvesse não uma, mas duas crianças com cinco anos incompletos.<br /><br />Na fazenda de Tio Rogério e Vó Lucia (somente na cabeça de uma criança tios e avós são casados), havia uma casa de boneca construída só para Paula. Não era uma casa daquelas de madeira que se coloca dentro de uma caixa e se esquece dentro do maleiro quando as bonecas são deixadas de lado pela pré-adolescente. Era uma casa erguida com tijolos, cimento, telhas e mobiliada na proporção perfeita para uma pessoinha viver ali. E Paula, nas férias, mudava-se para lá.<br /><br />Foi no início de uma noite de outono que Liliana, com olhos mareados, interrompeu a brincadeira dos filhos com um sério pedido:<br /><br />- Paulinha, Pêu, parem aí um pouco. Acabei de receber um telefonema avisando que Vovó Lucia sofeu um acidente na fazenda e está muito dodói. Vamos rezar porque ela tá precisando muito.<br /><br />Paula largou os brinquedos na sala, voou para o quarto e pôs-se de joelhos a rezar. Rezou, rezou, rezou e, quando já estava exausta, rezou mais uma vez pedindo ao Papai do Céu que ajudasse Vó Lucia. Caiu no sono com as palmas das mãos juntas.<br /><br />Na manhã seguinte, Liliana não a acordou com o beijo na testa de sempre. Foi uma lágrima materna que, ao tocar sua tez alva, a despertou. Vó Lucia não resistira mais aos ferimentos internos causados pela queda do cavalo e, de madrugada, enquanto Paula sonhava com a casa de bonecas, se foi.<br /><br />Naquela manhã, Dona Lucia morreu para família e amigos; Deus, para Paula... e para mim também.<br /><div align="right">Este texto foi revisado por Paula Berbert</div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-11529850457356191352008-12-01T06:00:00.000-08:002008-12-25T18:57:17.225-08:00CRIATURA HORRIPILANTE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWeEky3ScY5Y7c6ZjCfOYiTCWMmWt_dGLyKve1ZedjYQcnq0taJiwjWEkc0H2YYOq7sULNRRDegWN7P9-B5OwWUtZydh-P6PAB29t-BS2W40RJGmUbZN-xns3I0z4QR6s2tIbX7d4lEUHX/s1600-h/bela_lugosi.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5274821229718903746" style="margin: 0px 0px 10px 10px; float: right; width: 164px; height: 200px;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWeEky3ScY5Y7c6ZjCfOYiTCWMmWt_dGLyKve1ZedjYQcnq0taJiwjWEkc0H2YYOq7sULNRRDegWN7P9-B5OwWUtZydh-P6PAB29t-BS2W40RJGmUbZN-xns3I0z4QR6s2tIbX7d4lEUHX/s200/bela_lugosi.jpg" border="0" /></a>Tem certos dias em que não deveríamos, sequer, cogitar a possibilidade de levantar da cama. Por que não há uma lei regulamentando isso? Ontem foi assim. Acordei tarde (6:40 a.m.), tomei banho gelado, pois o chuveiro queimou assim que girei a torneira, fiquei sem café da manhã para não deixar meus alunos esperando muito – àquela altura já estava, de fato, atrasado. Quando cheguei à garagem, percebi que tinha esquecido parte do material. Subi correndo os 10 lances de escada que separam a garagem do meu apartamento, notei que esquecera a chave de casa na ignição da moto. De raiva, quase bati a cabeça na parede. Desci correndo os 10 lances de escada que separam o meu apartamento da garagem, peguei a bendita chave, subi os 10 lances de escada que separam a garagem do meu apartamento, peguei o material, chequei para não esquecer mais nada, desci correndo os 10 lances de... você já sabe, guardei o material no baú da moto, coloquei o capacete, ajustei os óculos escuros, botei a chave na ignição e... quem disse que consegui girar a chave pra fazer o motor funcionar? O miolo da ignição travou por causa da chuva do dia anterior! Como assim, uma chuvinha de merda acaba com uma peça que custa mais do que a soma dos meus salários dos três estabelecimentos em que ensino. Como assim, mermão!?<br /><br />Peguei o material no baú, pus o capacete lá, corri para um ponto de táxi que tem aqui, na rua debaixo, liguei para o celular de um aluno avisando que chegaria atrasado. Tentei relaxar durante o trajeto, pois o dia ainda seria longo! Chegando à UFBA, paguei pela corrida o mesmo valor de uma promoção da Mc Donald's. Corri até o PAF III, esperei o elevador descer do último andar e, finalmente, agora sim, finalmente mesmo, cheguei à sala 310, onde meus queridos alunos se aglomeravam na porta. Coloquei meu material na mesa, sentei na minha quase-confortável cadeira, respirei fundo e quando, por acaso, olhei para o chão, percebi que o pé esquerdo da minha bota de trekking – comprada há menos de um ano – tinha rasgado, deixando a meia branca, na altura do mindinho, exposta para quem quisesse ver. Putaquepariu!!!!! Sapato furado é foda! Sapato furado é roteiro de filme trash com pretensão de ser cult!<br /><br />Após as duas primeiras aulas do dia, fui ao Departamento de Germânicas, no segundo andar do Instituto de Letras, logo ao lado do PAF III, para filar o café de Glenda, a secretária mais eficiente do mundo. Além da competência incontestável na sua área de atuação – não reconhecida por alguns membros da aristocracia germânica –, Glenda prepara o café mais saboroso de Salvador e região metropolitana. Chegando lá, encontrei também Claudia Mesquita, minha eterna professora de Sintaxe, que me perguntou como eu estava. Desconsiderando o fato de ter sido uma pergunta meramente formal, relatei todos os acontecimentos daquela tenebrosa manhã de quarta-feira. Juro que eu esperava uma reação de solidariedade. Porém, não foi o que aconteceu. Voltando-se para mim e para Glenda, retrucou:<br /><br />Claudia – Pior foi o meu dia ontem.<br />Glenda – E isso lá é possivel? Pior que isso?!<br />Claudia – Dei aula das 7:00 às 11:00 com uma exaqueca daquelas. À tarde, não agüentei mais e fui para o hospital. Fiquei sob observação, fazendo exames e sendo medicada até o comecinho da noite. Se não bastasse a zonzeira dos remédios, quando cheguei em casa ainda tive que enfrentar uma barata.<br />Glenda – Afe! A pior parte foi a da barata! Parece filme de terror!<br />Eu (pensando) – Como assim, a barata foi a pior parte?! Como assim?!<br /><br />Fiquei imaginando os testes que José Mojica, o Zé do Caixão, aplicava na seleção de atores para seus filmes. Como os orçamentos eram reduzidíssimos e não havia grana para efeitos especias, ele utilizava bichinhos tipo morcegos, cobras, aranhas e baratas de verdade. Então, o ator que conseguisse tocá-los ou tolerá-los passeando pelo seu corpo estava aprovado! Filme Trash com T maiúsculo! Sem subterfúgio. Tipo Ed Wood (1924-1978), diretor e produtor estadunidense que ganhou notoriedade pelas soluções pouco convencionais ante problemas orçamentários dos seus filmes de terror e ficção científica.<br /><br />Certa feita, convidou Bela Lugosi (1882-1956), o famoso Drácula dos anos 30 – esquecido com a decadência dos filmes de terror nas décadas seguintes –, para estrelar <span style="font-style: italic;">Plan 9 From Outer Space</span>. Lugosi, infelizmente, morreu após a primeira semana de gravação. Para aproveitar o que já havia sido filmado, Ed Wood encontrou um outro ator que tinha os olhos parecidos com os de Lugosi e terminou o filme com a personagem usando uma capa que, apoiada no antebraço diante do rosto, deixava apenas os olhos de fora. Inacreditável. Um filme inteiro com apenas os olhos do protagonista à mostra.<br /><br />Foi justamente essa forma de empunhar a capa diante do rosto que me salvou durante um terrível embate contra um determinado tipo de inseto cosmopolita, cujo principal problema que pode causar à espécie humana é a atuação como vetor mecânico de diversos patógenos, tais como bactérias, fungos, protozoários, vermes e vírus.<br /><br />Era uma noite sem lua e de vento frio. As primeiras horas da madrugada já avançavam no antigo relógio de parede e minhas pálpebras não suportavam mais o peso do cansaço. Fui até meu quarto, enfiei-me debaixo das cobertas, apaguei o abajur e fiquei esperando o sono me tomar de vez. Foi quando, envolto no manto escuro da madrugada, ouvi aquele ruído característico de asas e das anteninhas que riem sadicamente do nosso pavor. Acendi a luz e lá estava, acintosamente pousado na janela do meu quarto, um baratossauro. Insitintivamente lancei mão do pé direito da minha bota de trekking recém-comprada e fiz menção de arremessá-lo contra o monstro cascudo. Refuguei ao lembrar que a janela era de vidro. Resolvi, então, com o lençol a tiracolo, correr até a área de serviço e pegar o Baygon!<br /><br />Voltei pé ante pé, usando o lençol à guisa de “capa de Bela Lugosi” para me proteger de um possível rompante de fúria do inimigo que me espreitava. Naquela época, meu quarto tinha poucos móveis: apenas a cama, o armário e três almofadas enormes no chão, encostadas na parede, bem em frente à cama. A primeira coisa que notei no campo de batalha foi que a miserável não estava mais na janela. Feladaputa, pensei. Vasculhei o ambiente com os olhos e não consegui nenhum contato visual. A única possibilidade então eram as almofadas!<br /><br />Com o braço esquerdo segurando o lençol a la Ed Wood e o braço direito estendido à frente do corpo, empunhei o spray letal. Chutei longe a primeira almofada e despejei sem piedade o líquido mortífero. Assim que a pequena névoa sufocante se desfez, vi que o ser infecto não estava lá! Putaquepariu, putaquepariu, putaquepariu, quase berrei. A tensão aumentou. Tinha que ser agora! Proferi um certeiro golpe com meu pé canhoto na segunda almofada e novamente atentei contra a vida do enviado das trevas! A nuvem se dissipou e nada! Como assim? Quem é o roteirista dessa merda?, questionei. Era a útima almofada! Quase debruçado sobre ela, mão suando e olhos fixos no que poderia sair dali, pontapé, almofada voando, spray aniquilante, nuvem que se desfaz e... nada! Fiz aquela velha cara de interrogação e quando retornei à posição ereta percebi, com a minha visão periférica, um vulto na parede, bem na altura da minha cabeça! Virei e me deparei com a encarnação do capeta balançando as anteninhas para mim, a menos de 30 cm do meu rosto. Argh!!!!! Dei um salto pra trás no estilo Matrix e, ainda no ar, alvejei a escória do esgoto com uma sprayzada certeira. A desgraçada caiu no chão e, mesmo cambaleante, fugiu na tentativa de salvar sua mísera vida! Com o tubo cilíndrico de veneno a 10 cm de distância, impiedosamente fui despejando todo seu contéudo sobre o troço nojento que pelejava para escapar. Atravessou meu quarto, cruzou a porta, arrastou-se pelo corredor, entrou no quarto de minha irmã e foi aí que parei. Afinal, jamais acordaria minha amada irmãzinha no meio da noite com jatos de veneno.<br /><br />Na manhã seguinte, quando acordei, minha mãe e minha irmã já estavam tomando o café da manhã. Juntei-me a elas e travamos o seguinte diálogo:<br /><br />Mãe – Kika tava aqui me contanto que quando acordou achou uma barata morta ao lado da cama.<br />Eu – Que coisa, hein?<br />Kika – Deve ter entrado pela janela. Só vou dormir com ela bem fechada a partir de agora.<br />Eu – Que nada, Kika, relaxe. Isso não vai acontecer de novo.<br />Kika - Como você pode ter tanta certeza?<br />Eu – Intuição, Kika. Intuição...<br /><div align="right"><br />Texto revisado por Nídia Lubisco</div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-41439938077683220592008-10-30T19:49:00.000-07:002008-10-31T08:38:14.168-07:00E AÍ, DUDA?<div align="left"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpvpXAL3629Q2J49o1aKkoZtMDRc8lwWkTiwZ2kmSYcxzRG3_mp6Fk8-LubKMK16Wp0RpDtc4ust6YfDoXk7llmekbaWFQ0QplGZJ-gEq6L2KWi1Nipi5rZWBO85bdrqd9CeBtpraXokdG/s1600-h/jeans.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5263150499578546610" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; CURSOR: hand; HEIGHT: 150px" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpvpXAL3629Q2J49o1aKkoZtMDRc8lwWkTiwZ2kmSYcxzRG3_mp6Fk8-LubKMK16Wp0RpDtc4ust6YfDoXk7llmekbaWFQ0QplGZJ-gEq6L2KWi1Nipi5rZWBO85bdrqd9CeBtpraXokdG/s200/jeans.jpg" border="0" /></div><p align="left"></a>Supertrunfo começou a ser produzido no Brasil nos anos 70 pela Grow, mas só ganhou popularidade na década seguinte. Podia ser jogado por qualquer pessoa alfabetizada e consistia em tomar todas as cartas dos outros participantes. Originalmente com automóveis e outros veículos automotores, cada uma das 32 cartas trazia uma foto com os detalhes da máquina em questão e suas características, tais como velocidade, HP e 0/100 km/h.<br /><br />Sendo criado entre duas irmãs, nunca encontrei um oponente em casa. Meus vizinhos do Condomínio Caminho das Árvores, na Av. Paulo VI, onde morei até meus treze, quatorze anos, eram parceiros e rivais. Geralmente jogávamos no comecinho da tarde, enquanto esperávamos “o sol esfriar” um pouco para então bater o baba, brincar de siga-o-mestre, polícia-e-ladrão, andar de patins ou partir em nossa aventura predileta: pegar as bicicletas e explorar todas as ruas da Pituba, Itaigara e Caminho das Árvores... sem a autorização dos pais, é claro.<br /><br />Essas excursões começaram, na realidade, com o aprimoramento da brincadeira siga-o-mestre, que, originalmente, acontecia só no playground. Percebemos, então, que seria mais excitante se fosse de bicicleta, entre o gramado e a garagem. Até que um dia, Túlio – conhecido pelas traquinagens e merecedor de uma reunião extra entre moradores do Ébano e do Álamo para deliberarem sobre a punição ideal pelo esvaziamento de todos os extintores de todos os 8 andares dos dois prédios que formavam o condomínio – passou pelo portão da garagem, tomou a rua como se estivesse entrando na própria sala de estar e ganhou o mundo. Nós, fiéis escudeiros, seguimos o mestre. Desta tarde de quinta-feira em diante, todas as incursões ciclísticas visavam à expansão de fronteiras.<br /><br />Uma das melhores aventuras foi quando pedalamos por toda a Paulo VI no sentido Caminho das Árvores – Correio Central, viramos à direita, avançamos por aquela transversal em direção à ASBAC, quando vimos surgir à esquerda, para o nosso regozijo, o estacionamento do Paes Mendonça (atual Bompreço). Era descomunal. Um verdadeiro parque de diversões cheio de obstáculos, além da verdadeira emoção de automóveis vindo em todas as direções. Era uma bagunça maravilhosa!<br /><br />Minha mãe só fazia compras lá, até a construção do Hiper Paes Mendonça, ao lado do Shopping Iguatemi. Adorava ir com ela, apesar das horas de espera na fila das caixas registradoras e do atendimento tosco. As funcionárias pareciam fazer favor, e com muita má vontade. Eram extremamente grosseiras e não tinham idéia do significado da expressão “tratar bem”. Se hoje reclamamos dos serviços tradicionalmente ruins na capital baiana, imagine naquela época em que nem se sonhava em atendimento de excelência! Toda vez que nos deparávamos com alguma grosseria por parte de vendedores ou prestadores de serviços em geral, ouvia D. Nídia Lubisco dizer: “até parece caixa de Paes Mendonça”.<br /><br />Como sempre digo aos meus alunos: “melhor não é bom. Se você tirou 1,0 na primeira avaliação e 2,0 na segunda, melhorou 100%, mas ainda continua uma porcaria”. Nos últimos 20 anos, o atendimento ao público deixou de ser horrendo e é somente muito ruim. Algumas empresas, entretanto, têm a cara de pau de utilizar o bom-trato como diferencial. Como assim, diferencial?! Isso não é pré-requisito? Tratar bem o cliente não deveria ser algo extraordinário, mas sim corriqueiro, da mesma maneira que devemos cumprimentar o porteiro do nosso prédio, dar bom dia ao entrar no elevador ou ceder o assento aos mais velhos. E, além do mais, se eles querem mesmo vender, me convençam a voltar.<br /><br />Boa vontade, entretanto, não é o suficiente para garantir sucesso no que concerne a um bom relacionamento entre funcionários e clientes. Treinamento é imprescindível. Excesso de zelo pode ser desastroso. Quantas vezes entramos numa loja e o/a promotor(a) de vendas (não há mais vendedores nesse país, pois é politicamente incorreto, assim como não há mais contínuo, apenas auxiliar de escritório) nos chama de “meu bem” ou “querido”?<br /><br />Lembro de uma vez em que fui comprar jeans. Ao entrar na loja, a sorridente vended... ops, promotora de vendas, que diga, me cumprimentou e logo perguntou meu nome. Para evitar a típica cara de interrogação das pessoas que ouvem Lubisco pela primeira vez, resolvi simplificar e disse, a contragosto: Eduardo. Escolhi um par de tom claro, daqueles que já parecem velhos, sabe? Adoro. Fui ao trocador experimentar enquanto Márcia (esse era o nome dela – lembrei) ia à busca de um número maior, caso a cintura apertasse muito meus pneus. Passados alguns minutos, ela bateu na porta da cabine onde eu pelejava pra fechar o zíper e perguntou: “ficou boa, Duda?”. Duda?! Duda?! Puta que pariu, mermão! Como assim, Duda?! Como assim?! Comprei uma calça em outra loja por quase o dobro do preço, mas com o prazer de ser tratado como um cliente e não como o <i>brother</i> que senta à mesa do boteco pra comer água.<br /><br />Em 1992, um colega de 2º ano colegial perdeu o pai inesperadamente. Infarto fulminante. Toda a turma se solidarizou diante da tragédia. Acho que, de certa forma, o pai dele – pensávamos – podia ser o nosso. Os mais próximos acompanharam tudo de perto. Inclusive a contratação do serviço funerário.<br /><br />Por uma infeliz coincidência, tanto a viúva quanto o irmão mais novo do falecido contataram lojas especializadas no assunto. Quando perceberam o ocorrido, compararam os preços e decidiram contratar o serviço providenciado pelo tio do meu colega. A viúva, após inúmeras tentativas frustradas por telefone, resolveu ir pessoalmente cancelar a reserva, para não deixar na mão o rapaz que a tinha atendido magistralmente. Como a funerária era bem ao lado do hospital, ela queria aproveitar a oportunidade para andar um pouco e desanuviar as idéias. Com um pouco de insistência, a convenci de que seria prudente acompanhá-la, pois ainda estava muito recente, blá, blá, blá, blá...<br /><br />Chegando lá, Minha Tia (como todos os amigos a chamavam) explicou a situação ao funcionário, que se mostrou muito compreensivo e até ensaiou algumas palavras reconfortantes. Depois de tudo resolvido, Sr. Washington (lembrei também) educadamente nos conduziu à saída, apertou a minha mão firmemente – devia pensar que eu era filho do morto –, olhou nos olhos de Minha Tia e, passando a mão no ombro dela, disse:<br />- Muito obrigado pelo cuidado da senhora mesmo num momento tão difícil. Não foi dessa vez, mas fica pra próxima...<br />Silêncio.<br />Nos viramos ainda estupefatos e, após uns três ou quatro passos, ouvimos:<br />- Voltem sempre!<br /><br /><div align="right">Texto revisado por Paula Berbert</div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-67129377086051630482008-09-15T13:33:00.000-07:002008-09-18T17:14:08.090-07:00CHOQUE DE GERAÇÕES<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQKN5qy5qzsiE5sA-TY0D_7KVHunDY7mTLTk7ViI03iCkr9wKUeohPldND8UUX8qhLf0TYtcQ00EUzP0gxkg679_ADE13hv6lXUsuSVui15A633tMTwL5c1IGdaY6vwdzcvbQL6zhVwCLH/s1600-h/ruteraquel.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5246349241624612386" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 177px; CURSOR: hand; HEIGHT: 225px" height="264" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQKN5qy5qzsiE5sA-TY0D_7KVHunDY7mTLTk7ViI03iCkr9wKUeohPldND8UUX8qhLf0TYtcQ00EUzP0gxkg679_ADE13hv6lXUsuSVui15A633tMTwL5c1IGdaY6vwdzcvbQL6zhVwCLH/s320/ruteraquel.jpg" width="154" border="0" /></a><span style="color:#3333ff;">A melhor coisa que Nelson Motta já fez, de longe, foi comer Marisa Monte. E olhe que ele já escreveu livros (Nova York é Aqui: Manhattan de Cabo a Rabo; Noites Tropicais: Solos, Improvisações e Memórias; Canto da Sereia), tem parcerias memoráveis com Lulu Santos (Zen-surfismo, aquela que diz “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia, blá, blá, blá”...), além de ter idealizado e produzido as vovós dos Menudos: As Frenéticas.<br /><br />Originalmente, elas eram garçonetes que, com suas roupas coladas no corpo e maquiagem carregada, trabalhavam na discoteca Frenetic Dancing Days, do próprio Motta. No meio da noite, elas subiam de surpresa ao palco, cantavam três ou quatro músicas e voltavam a servir. O sucesso foi tão grande que o sexteto, formado por Sandra, Regina, Leiloca, Lidoka, Nega Dudu e Edir, deixou o serviço de garçonete para trás e se dedicou somente ao espetáculo musical.<br /><br />Em 1978, no auge do <i>disco</i>, as afilhadas de Nelson Motta emplacaram a música <i>Dancing Days</i> na novela homônima da Rede Globo. No ano seguinte, conseguiram a façanha de emplacar outra música de abertura em mais uma novela Global. Coincidentemente, esse folhetim televisivo é a minha primeira memória de programa não-infantil (<i>Vila Sésamo</i>, com Armando Bogus, Sonia Braga, Garibaldo e Gugu, e o <i>Sítio do Pica-Pau Amarelo</i> nunca saíram de minha lembrança... Ai, que medo da Cuca!). Eu amava a abertura de <i>Feijão Maravilha</i> e, segundo minha mãe, vivia cantarolando, mesmo aos 5 anos de idade, “Dez entre dez brasileiros preferem feijão...”.<br /><br />Nunca fui um grande noveleiro. Diversas vezes me senti excluído de conversas por ser incapaz de opinar sobre a malfeitoria de fulano da novela das seis ou sobre o novo corte de cabelo da protagonista da última de Manoel Carlos. Por outro lado, rio das pessoas que, desdenhosamente, olham de soslaio para os noveleiros, como se assistir a novelas fosse um crime contra a cultura, afinal “isso é, na realidade, subcultura”, como ouvi certa feita em uma mesa no Pós – repleta de gente inteligente que só tem conversa inteligente, só conta piada inteligente, só tira foto inteligente, só come comida inteligente e só anda com gente inteligente. Esses mesmos que olham de canto de olho esquecem – ou simplesmente ignoram – que os romances românticos também eram publicados em estrutura de folhetim, capítulo a capítulo, podendo ter sua trama modificada de acordo com a reação do público. A essência continua a mesma, somente a mídia foi transferida das cordas vocais dos poucos alfabetizados que liam em voz alta – muitas vezes ainda no porto, assim que recebiam mais um capítulo – para as telas de LCD.<br /><br />Meus amigos Cyro Serpa e Ronei Jorge e minha irmã, Kika, são os maiores noveleiros do mundo mundial. Kika e Ronei têm a mesma característica: lembram que ator interpretou o papel X na novela Y no ano tal. Impressionante. E se, por acaso, alguém menciona o nome de uma atriz e ninguém mais recorda quem ela é, prontamente eles, com a naturalidade de quem bebe um copo d’água, nos (lá ele profilático) enchem de referências: “na novela blá, blá, blá, ela era Cicraninha, casada com Sr. Fulano, interpretado por... como é nome dele mesmo? Aquele cara que em 1986 teve uma breve aparição na novela tal, em que a protagonista era atropelada por ele no capítulo vinte e oito... ah, o nome dele é Beltrano Silva, lembra?” Como assim “lembra?”, como assim?!<br /><br />Já Cyro consegue não somente recordar das músicas de abertura como também dos temas de cada personagem. E pior: muitos desses temas ele toca no violão. Inacreditável. Não entendo por que eles não se associam e abrem uma consultoria para participantes de <i>quizes</i>. Ganhariam uma grana preparando esse povo.<br /><br />São poucas as lembranças novelísticas que tenho. Quem matou Odete Roitman? Foi a pergunta que paralisou o país em 1988/89. Ainda parte da trama de Vale Tudo, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, Heleninha Roitman, uma bebum que vivia pendurada num copo de uísque, foi eternizada por Renata Sorrah. Em 1993, Mulheres de Areia, de Ivani Ribeiro, fomentou inflamadas discussões sobre as irmãs gêmeas – idênticas na aparência, mas opostas no comportamento – interpretadas de maneira magistral por Glória Pires.<br /><br />Recentemente, percebi que as novelas têm as mais diversas funções, além de entreter os telespectadores ávidos por fatos humanos fictícios, porém verossímeis. Uma delas é fazer a clara distinção de gerações. Explico: a depender da referência que se faça a determinada novela, o seu ouvinte pode ou não compreender sua fala em função da idade que tem.<br /><br />Vivenciei isso na minha aula de Inglês em Nível Intermediário da UFBA, que acontece às segundas, quartas e sextas, das 7:00 às 9:00. Na moral, uma quebra de raciocínio para propor uma reflexão: quem, em sã consciência, no perfeito funcionamento das funções mentais, opta por um horário de corno desse?! E são 43 alunos matriculados, com uma média de 36 por aula. Tem gente que mora a 150 km de Salvador e nunca se atrasa! PELAMORDEDEUS!!<br /><br />Bem, voltando. Justamente nessa turma, no primeiríssimo dia de aula, durante a chamada, me deparo com uma daquelas piadas prontas, perfeitas para você ser agraciado com o Nobel da Piada...<br />- Paloooma.<br />- Preeeeesent!<br />- Paulo Josééé.<br />- Heeeeere, teacher.<br />- Raqueeel.<br />- It’s me.<br />- Ruuute.<br />(Silêncio)<br />- Tonho da Luuua.<br />(ah...... ah... ah... eh, eh... ah, eh)<br /><br />Só meia dúzia de gatos pingados daquela sala infestada de calouros foi capaz de reconhecer a minha genialidade.<br /><br />O melhor, entretanto, estava por vir após um mês das aulas iniciadas. Durante a chamada – sou do tipo que faz chamada, pois acredito que os alunos de universidade pública carregam a responsabilidade de os contribuintes pagarem para que eles possam usufruir desse privilégio –, percebi que Rute jamais tinha dado o ar da graça. Dirigi-me, então, a Raquel e, sorrindo, disse: “Poxa, Raquel, sua irmã gêmea nunca aparece!”... E ela respondeu: “É que eu faço o papel das duas, né, Lubisco?!”.</span><br /><span style="color:#3333ff;"></span><br /><div align="right"><span style="color:#3333ff;">Texto revisado por Paula Berbert</span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com19tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-12221379706745353102008-08-31T19:54:00.000-07:002008-09-01T11:48:59.479-07:00JOGOS INFANTIS<div align="left"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgu9FuMIEzGfsyF9pu1460Td6v0f85P0S7CQgUOwzJok7nIBYUlS8WthgVkdbaT3S0N1ZbErSkmZtOuoiOwFStZR2z572JeyjZrohuywc7XDpUQCF_Hb8DXgxZlnUoOxX6QvNAM5zXWcxfR/s1600-h/IMG_0018.JPG"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5240881965255015426" style="margin: 0px 0px 10px 10px; float: right; width: 219px; height: 147px;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgu9FuMIEzGfsyF9pu1460Td6v0f85P0S7CQgUOwzJok7nIBYUlS8WthgVkdbaT3S0N1ZbErSkmZtOuoiOwFStZR2z572JeyjZrohuywc7XDpUQCF_Hb8DXgxZlnUoOxX6QvNAM5zXWcxfR/s320/IMG_0018.JPG" width="238" border="0" height="161" /></a> <span style="color: rgb(51, 51, 255);">Estudei na Escola Teresa de Lisieux da alfabetização ao 3º ano colegial, ou melhor, até a metade do 3º ano, quando tive uma séria discordância com a coordenação do 2º grau e resolvi, mesmo sob o protesto da turma que eu oficialmente representava e com o apoio de todas as outras do 1º e do 2º anos, terminar meus estudos em outro colégio. O fato foi que, mesmo tendo fracassado na tentativa de fundar o grêmio estudantil, acabei me tornando, informalmente, uma espécie de conselheiro dos outros líderes de sala. Recorrentemente, minhas aulas eram interrompidas com um “com licença, professora, poderíamos falar com Lubisco?”. E lá ia eu, feliz da vida por sair da sala e com o ego inflado, aconselhar meus pares. Para um garoto de 17 anos, isso era fantástico!<br /><br />O meu ingresso no Teresa não foi exatamente um passeio no parque. Eu estudara na pré-escola 123 Jardim de Infância, que funcionava em uma ampla casa construída para a função na Rua Guillard Muniz, mesma rua em que morava minha Vó Diva. Sair deste aconchego para uma escola com aproximadamente três mil alunos foi assustador. Chorei durante as primeiras semanas de aula, toda vez que minha mãe me deixava lá. Imagino a firmeza que Dona Nídia precisou ter para não fraquejar e deixar o filho esperneando nos braços da Tia Terezinha.<br /><br />Tia Terezinha foi minha alfabetizadora. Pequenina – talvez por isso nos sentíssemos tão confortáveis com ela –, nunca levantava a voz. Pacientemente, todos os dias, fazia a lista da merenda, chamando um a um, anotando os pedidos e recolhendo o dinheiro. O recordista mundial entre os pedidos era o “sonho com guaraná”. Havia o time da “banana real com Coca-Cola”, mas era minoria. Se algum partidário do combo nº 1 ousasse pedir outra coisa, logo vinham os olhares de “como assim, banana real?! Como assim?!”...<br /><br />Entre um lanche e outro, nos alfabetizávamos! Lembro claramente do livro A Casinha Feliz. Toda a minha geração conheceu Vavá, Vevé, Vovô, neném, a vaquinha Mumu e o galo Cocó. O método se baseava no reconhecimento das letras, a união delas formando sílabas e, finalmente, a justaposição dessas forjando o milagre da palavra. Aprendíamos, então, a ler assim: m-m-ma, m-m-mãe, mamãe. Era massa. E, por fim, orações completas eram introduzidas (lá ele): Vavá leva neném? Neném leva Vavá? Surreal! Surreal!<br /><br />O processo de aprender a ler é fascinante. Escraviza-nos. Só percebi isso quando, assim que voltei da Alemanha, fui morar em um quarto e sala com Lua, ali no Itaigara. Por coincidência, o nosso vizinho de porta era um velho conhecido da minha, na época, cônjuge. Em pouquíssimo tempo, Edinho e eu já éramos amigos e as duas famílias viviam de portas abertas, transformando os “apertamentos” em um confortável dois quartos. Edinho já era casado com Mima e tinham, há seis anos, uma filhinha chamada Julia – para nós, Jujuba. Hoje, Jujuba tem 10 anos e um irmãozinho de 5 meses, Vitor.<br /><br />O almoço de domingo, mais que uma tradição, transformara-se num momento de lazer. Apesar do convívio diário, sentar à mesa, um servir ao outro, discutir questões que nos afligiam ou simplesmente jogar conversa fora sempre pareciam novidade. Mima, vez por outra, fazia uma macarronada com um molho de queijo provolone, gorgonzola, prato e parmesão. Uma delícia. O único problema era que, após a ingestão dessa bomba, ninguém conseguia fazer nada mais. Afundávamos no sofá e, prostrados, assistíamos a alguma coisa na TV até algum de nós recuperar o mínimo das funções vitais e conseguir balbuciar algumas quase ininteligíveis palavras e, assim, retomar a conversa que começara antes da primeira garfada.<br /><br />Em um desses encontros dominicais, já estávamos almoçando quando Mima lembrou: “poxa, Lubis, não é light, mas tem Coca na geladeira. Quer?”. Ponderei por milésimos de segundos e, baseado no fato de que, excepcionalmente, não estávamos comendo a bomba, aceitei.<br /><br />Mima se levantou, deu a volta no balcão que separava a cozinha da sala, abriu a geladeira, pegou a Coca-Cola, fechou a geladeira e trouxe-a até a mesa. Lua e Edinho, que conversavam animadamente, continuaram se entretendo. Eu, por acaso, percebi Jujuba assistindo, como se tudo acontecesse em câmera lenta, à chegada da garrafa pet na mesa. Olhar vidrado, mal piscava... Seguia com os olhos aquele totem de plástico à medida que Mima, educadamente, servia a todos. Juntei-me à conversa e, segundos depois, aqueles segundos que parecem eternidade, percebi que Ju permanecia hipnotizada. Parecia estar em uma dimensão paralela onde só havia ela e o rótulo vermelho-sangue da garrafa. Foi então que, repentinamente, interrompeu os adultos:<br />- “O que indústria brasileira?”<br />Como assim, o que é indústria brasileira?! Ela estava lendo! L-l-len, d-d-do, lendo.<br /><br />Além de ler, desenhar assustadoramente bem e, já aos seis anos, saber distinguir música ternária de quaternária, Juju tinha um passatempo que eu, particularmente, adorava. Vez por outra, batia lá em casa e “Lubis, posso passar o aspirador de pó?”. Obviamente, eu jamais negaria aquele pedido, apesar da frase “trabalho infantil é crime” permanecer martelando a minha cabeça! Alguns minutos e zapt!, criança feliz e sala limpa! Maravilha! Nada como unir o útil ao agradável.<br /><br />Entre as outras milhares de histórias que lembro, uma das minhas prediletas é justamente a que todos os meus amigos que têm filhos fazem aquela cara de “hum... sei exatamente como é isso” ou de “porra, como nunca pensei nisso antes!”.<br /><br />Lua, que sempre teve um jeito incrível para lidar com criança – acho que está no gene, pois Anni, minha ex-sogra (se é lá que ex-sogra existe) tem um ímã de pimpolhos –, adorava, quando tinha tempo, ficar brincado com Ju. Era impressionante a maneira com que elas se conectavam. Se não fosse pela diferença de altura e pelos rompantes de adultez, era impossível saber qual das duas tinha 6 anos.<br /><br />Era comecinho da noite de um domingo, provavelmente, e as duas já brincavam há horas. Eu, no desconfortável-sofá-cama-que-a-nossa-grana-permitiu-comprar, olhava a TV, quando fui surpreendido pelo seguinte diálogo que vinha da rede na varanda:<br />- E então, Juju, quer brincar de quê agora?<br />- Vamos brincar de descansar?<br />- Oxe, e como é que brinca disso?<br />- Assim, ó: a gente fica aqui deitada e descansa.<br />- Uhum... Sei, sei... (Pausa...) E quem te ensinou essa brincadeira, Juju?<br />- Meu pai!<br />Como assim, Edinho?! Como assim?!<br /><br />Texto revisado por Paula Berbert.</span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-42533980510724179592008-08-10T15:55:00.000-07:002008-08-12T11:55:36.164-07:00RUA GUILLARD MUNIZ<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPsJ20Qeu-alpPOrm2BRem6PNQ9_g9ML1stv2EdH97Uk9kXs34euCRph8x24Lld7BwWTnY11YfE5nXi56wHaDmmQO6vT8aevWaMJgT1KPebc3mWwCgGqvxk9txVDQ5sk4WjS9S_h3Q9a3E/s1600-h/sapatinhos.jpg"><span style="color: rgb(51, 51, 255);"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5233026650517171122" style="margin: 0px 0px 10px 10px; float: right;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPsJ20Qeu-alpPOrm2BRem6PNQ9_g9ML1stv2EdH97Uk9kXs34euCRph8x24Lld7BwWTnY11YfE5nXi56wHaDmmQO6vT8aevWaMJgT1KPebc3mWwCgGqvxk9txVDQ5sk4WjS9S_h3Q9a3E/s320/sapatinhos.jpg" border="0" height="190" width="196" /></span></a><span style="color: rgb(51, 51, 255);">Minha vó Diva foi vó com “V” <span style="font-style: italic;">maiusculoso</span>. Nos levava à pracinha e passávamos a tarde brincando na areia. Lembro dela com os nossos pares de sapatinhos pendurados nos dedos quando andávamos de volta para a casa dela, na Rua Guillard Muniz, Edifício Cerejeira, apartamento 101. Hoje, ela mora com o filho em função da fragilidade de sua saúde.<br /><br />De volta ao apartamento, tomávamos banho e íamos direto para o quarto da TV, enquanto minha vó preparava nossa janta. Cada um tinha seu próprio pratinho. Eram todos de sopa, para evitar catástrofes no sofá, já que jantávamos lá, acomodadinhos, assistindo, provavelmente, à novela das seis. O meu, recordo, tinha uns detalhes em cor de abóbora e amarelo que talvez, caso minha memória não esteja tão ruim quanto a situação do Galícia, fossem florezinhas.<br /><br />Todo mundo sabe que comida de vó é a melhor do mundo. A da minha era a melhor do universo universal. Quando tive hepatite e sofria com as inúmeras restrições alimentares, somente ela dava um jeito de, mesmo sem utilizar uma gota de gordura, tornar a comida saborosa. Fazia bolos “de comer rezando” e, para a nossa diversão, nos deixava lamber a tigela da batedeira, pegar as sobras da massa de pastel caseiro e brincar com a máquina de fazer macarrão. Sim, ela tinha uma máquina de fazer macarrão!<br /><br />Ainda não sei se a viúva de vovô Eduardo era mágica ou alquimista. Corajosa, com certeza, era. Após o falecimento do meu avô – que não chegou a conhecer nenhum dos netos –, mesmo contra os bons costumes e as expectativas em relação a uma senhora viúva, contraiu segundas núpcias... e com um homem mais novo. Como assim, com um homem mais novo?! – devem ter pensado as mais recatadas.<br /><br />Hoje, percebo que D. Diva, além de fazer doces, costurar, pintar, cuidar dos netos e ser corajosa, tinha uma paciência de Jó. Não devia ser nada fácil administrar três diabos da Tasmânia brigando. E, além do mais, toda vez que pedíamos, repetia a mesma história <span style="font-style: italic;">nonsense </span>como se fosse inédita.<br /><br />Nana: Vó, conta aquela história?!<br />Eu: É, é, conta!<br />Kika (com pouco mais de um ano): anskznchbdhaoenshabnxckabdjfidba.<br />Diva: Era uma vez três: um polaco e um francês. O polaco puxou a espada e o francês se arrepiou. Quer que eu te conte outra vez?<br />Nana e eu: Quero!<br />Kika: ushnkaiolanueo!<br />Diva: Era uma vez três: um polaco e um francês. O polaco puxou a espada e o francês se arrepiou. Quer que eu te conte outra vez?<br />Nana e eu: Quero!<br />Kika: kaniolhnajksoueam!<br />Diva: Era uma vez três: um polaco e um francês. O polaco puxou a espada e o francês se arrepiou. Quer que eu te conte outra vez?<br /><br />Ai, ai, vó Diva!</span><br /><span style="color: rgb(51, 51, 255);"></span><br /><div align="right"><span style="color: rgb(51, 51, 255);">Texto revisado por Paula Berbert</span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-70259649372159377822008-07-24T19:57:00.000-07:002008-12-12T21:39:12.616-08:00EROS<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia9qPyIjQMhyx34Oo3BidNkHkYuNo6hFk3jU2tP0OwNuUvZ3HOIc1mNmS8By5GY7yoeHrZ5rd3SAvzulxXS0d4S2Cjawe2q4BWu7zUsV8NeuUOqbtE8OlGO_46sg6Xx9pgiks5WkW89Ikt/s1600-h/eros.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5226780793659687730" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" height="191" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEia9qPyIjQMhyx34Oo3BidNkHkYuNo6hFk3jU2tP0OwNuUvZ3HOIc1mNmS8By5GY7yoeHrZ5rd3SAvzulxXS0d4S2Cjawe2q4BWu7zUsV8NeuUOqbtE8OlGO_46sg6Xx9pgiks5WkW89Ikt/s320/eros.bmp" width="169" border="0" /></a><span style="font-family:arial;color:#3333ff;">Ontem à noite, quase hoje, Déa entrou, do nada, no msn e sumiu como o Mestre dos Magos...<br /><br />Andrea diz:<br />lubis.... </span><span style="font-family:arial;color:#3333ff;"><div><br />lubisco diz:<br />oi, déa... </div><div><br />Andrea diz:<br />como se diz "eu te amo" em alemão? </div><div><br />lubisco diz:<br />Ich liebe dich </div><div><br />Andrea diz:<br />acho que daria um beijinho no rosto, um abraço apertado e desenharia um coração no ar com as mãos... </div><div><br />lubisco diz:<br />... </div><div><br />Andrea diz:<br />que difícil amar em alemão. </div><div><br />lubisco diz:<br />é difícil amar em qualquer língua, déa, em qualquer língua!</span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-54534909361845715862008-07-16T20:19:00.000-07:002009-08-24T10:07:08.792-07:00CONCORDÂNCIA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzHvhfUyIHxBho2zIVE4iTcIZ8lYiac1iRp01Lr6jFJUcysqTLNidAQvO-fI8RVXCjh68euVd33LhUQ5aUp9GKz2zRqJAn9YlXovBpsQkHkogECBAprEkh8ryfUYuEerIxgxfwfBHi7PXs/s1600-h/bahiaXgremio.jpg"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 186px; FLOAT: right; HEIGHT: 188px" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5223817737597973906" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzHvhfUyIHxBho2zIVE4iTcIZ8lYiac1iRp01Lr6jFJUcysqTLNidAQvO-fI8RVXCjh68euVd33LhUQ5aUp9GKz2zRqJAn9YlXovBpsQkHkogECBAprEkh8ryfUYuEerIxgxfwfBHi7PXs/s320/bahiaXgremio.jpg" width="225" height="204" /></a><span style="COLOR: rgb(51,51,255)">A formação dos Estados Unidos da América, “aquele pedaço de terra compreendido entre o México e o Canadá que deveria ser oceano”, como diria meu amigo Cyro, está intimamente ligada à perseguição religiosa sofrida pelos peregrinos, ainda na Inglaterra. Por isso, provavelmente, como sugerem diversos estudos, os estadunidenses acreditam ser uma nação predestinada, um povo escolhido por Deus, o que lhes confere o divino direito de intervir onde e quando for necessário em nome dos valores elevados que julgam defender. Tem sido assim no Iraque e no Afeganistão, hoje, assim como foi apoiando as sangrentas ditaduras na América Latina nos anos 60 e 70, majoritariamente. Sabemos dos casos de tortura e morte, aqui no Brasil, de pessoas que simplesmente desapareceram ou foram “suicidadas”, como o jornalista Vladimir Herzog, o Vado.<br /><br />Essa brutalidade patrocinada pelo Uncle Sam ganhou proporções ainda maiores na Argentina e no Chile. Na terra de Maradona, o último golpe militar – 1976/1983 – deixou um saldo de 9 a 10 mil mortos e desaparecidos, segundo os dados oficiais. Porém, as organizações de direitos humanos, inclusive as Mães da Praça de Maio, contestam, afirmando que esse número pode chegar a 30 mil. No Chile, onde Salvador Allende fora eleito o primeiro presidente sul-americano socialista por voto direto, o General Augusto Pinochet, com a bênção da Estátua da Liberdade, assumiu o poder em 1973 e, até 1990, garantiu que 3.197 pessoas sumissem ou desaparecessem.<br /><br />Da mesma forma que diversos brasileiros deixaram a pátria para morar em outras terras, chilenos e argentinos também o fizeram, como é muito comum em ditaduras violentas como as que assolaram o hemisfério sul do nosso continente americano. Conheço um rapaz de trinta e poucos anos que, em meados dos 80, se mudou para Salvador com a mãe e a irmã caçula para esperar pelo pai, também chileno, mas que por um motivo ou outro viria mais tarde. Nunca chegou.<br /><br />A partir dos anos 90, houve uma nova leva de “hermanos latinos” chegando ao Brasil por um motivo bem mais leve: o futebol. Na realidade, ainda nas décadas anteriores já havia jogadores de outros países sul-americanos fazendo história por aqui: o argentino Ramon Rafanelli comandou a zaga do Bangu nos idos de 1949; o paraguaio Romerito foi campeão brasileiro pelo Fluminense em 1984; o goleiro uruguaio Rodolfo Rodriguez jogou no Santos e, no final da carreira, no Baêa minha porra, quando protagonizou, em 1993, uma cena patética na derrota de 6X0 contra o Cruzeiro, do então magro Ronaldinho.<br /><br />Foi exatamente um estrangeiro que me fez retornar ao estádio Octávio Mangabeira, mais conhecido como Fonte Nova, após anos apenas assistindo futebol pela televisão. Arce, lateral direito paraguaio, fez história na seleção do seu país ao lado do zagueiro Gamarra, considerado por muitos um dos melhores na sua posição em todos os tempos, chegando a passar a Copa do Mundo de 1998, quando foram eliminados pela França na prorrogação, sem fazer uma falta sequer! Infelizmente, Gamarra defendia também o Inter de Porto Alegre, maior rival do meu Grêmio – duas vezes campeão brasileiro, três da Copa do Brasil, duas da Libertadores e uma do mundial interclubes. Arce, por sua vez, sob o comando de Felipão, dominou a lateral direita por anos, até ser contratato pelo Palmeiras, onde continuou sua carreira de sucesso. Pois bem, eu queria ver Arce jogar.<br /><br />Eu batia baba no campo de barro do Clariana, um edifício aqui do Candeal onde Pedro Pererê e Mistério, da extinta Inkoma – banda de que Pitty também fazia parte –, moravam. Já joguei nos mais diversos lugares: asfalto, corredor de colégio, garagem, ladeira... mas esse campo deve ser o único do planeta que não tem nenhum lado paralelo. À primeira vista, parece um trapézio, por isso o time vencedor sempre escolhe atacar para a linha de fundo mais estreita. Dá um sufoco na defesa adversária. Entretanto, com um olhar mais apurado, percebe-se que as linhas laterais se encontram antes do infinito. Surreal!<br /><br />Brandão, pai do melhor volante que já vi jogar, Emílio, marcava presença todos os sábados, estando sempre entre os primeiros a chegar, o que lhe conferia o direito de participar do primeiro baba. Este durava 20 minutos e não tinha limite de gols, enquanto os seguintes eram no esquema 15 minutos ou dois gols. Estas regras foram estipuladas para evitar confusões, pelo nosso COB, Comitê Organizador do Baba, presidido por Glauco e assessorado pelo próprio Brandão e por Doutor Valter, um boliviano que, no auge de seus quase 70 anos, jogava conosco e corria mais que muito garotão. E, já no final da tarde, na resenha na frente da barraquinha tomando água, desculpava-se: “poxa, Lubisco, naquele gol do último baba, não consegui acompanhar Jean (na época com 18 anos). É que joguei tênis pela manhã e já tava cansado.” Como assim, Doutor Valter, como assim?!<br /><br />Foi Brandão, fervoroso torcedor do Bahia, sabendo da minha ausência nos estádios por tantos anos, quem me convidou para assistir BahiaXGrêmio pelo Campeonato Brasileiro de 1996. Mesmo tendo que ficar à paisana na torcida do rival, eu veria Arce. Disse sim!<br /><br />Vesti uma bermuda azul, uma camisa branca e, por baixo das meias azuis, outras com o símbolo do tricolor gaúcho, time com história nefasta de racismo que, na sua origem, não contratava negros. Um nojo! Já tentei, mas não consigo desamar meu time! Como assim, Lubisco?! Como assim, me pergunto! Idiossincrasias, me respondo.<br /><br />A Fonte Nova com seus aproximadamente 30 mil torcedores calou-se com o primeiro gol do Grêmio, assinalado por Carlos Miguel, antes dos 10 minutos do primeiro tempo. O silêncio nas arquibancadas contrastava com os berros de euforia ecoando dentro de mim (lá ele). No último minuto da primeira etapa, ainda, emudeci diante daquela massa sonora que comemorava o gol de empate. Como assim, Danrlei!? Que frango, porra. “Até minha avó com todo o reumatismo dela pegava essa bola”, resmunguei quase calado!<br /><br />No segundo tempo, o Esquadrão de Aço parecia ter 22 jogadores. Eles atacavam por todos os lados o tempo todo. Só não marcaram duzentos gols porque a pontaria dos atacantes era sofrível e porque Danrlei, finalmente, fez jus à camisa número 1 e se redimiu praticando defesas indescritíveis. Àquela altura, eu torcia mais para o árbitro dar o derradeiro apito do que para o meu time. Foi quando, faltando dois minutos para o final do jogo, da intermediária, Arce acertou um petardo no ângulo esquerdo de Jean. “É goooooool!!!! Putaquepariu, golaço! É Grêmio, minha porra!”, gritei calado.<br /><br />O silêncio dos torcedores durou somente até o término da partida. Depois disso, eu presenciei uma catarse coletiva. Gerações e mais gerações do técnico foram ofendidas. Jogadores tiveram sua masculinidade colocada em xeque, assim como foram jurados de morte pelos meus companheiros de arquibancada mais exaltados. Eis que surge, no meio da multidão, um senhor grisalho com ar apaziguador balançando levemente os braços abertos, com as mãos espalmadas para baixo e gritando:<br /><br />- Pessoal, CALMAM, pessoal. CALMAM!</span><br /><br /><div align="right"><span style="COLOR: rgb(51,102,255)">Texto revisado por Paula Berbert</span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-21519077572849660442008-07-08T14:54:00.000-07:002008-12-12T21:39:12.907-08:00CARIOCAS x MINEIROS<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR-_0UViFevkscdg2mvvP_AD9tTkJJrnpgnSIPJkfWsqw_IiWqDB9z61bpEi4Udx4T22_eToJfcqs5QHYGAItUPU88cF2OPIKEmd3rR88zgvFsLx9vwmSO9ZHTFOoKU-RnvryFt86DJYi7/s1600-h/estatistica.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5220764971027554706" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" height="157" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR-_0UViFevkscdg2mvvP_AD9tTkJJrnpgnSIPJkfWsqw_IiWqDB9z61bpEi4Udx4T22_eToJfcqs5QHYGAItUPU88cF2OPIKEmd3rR88zgvFsLx9vwmSO9ZHTFOoKU-RnvryFt86DJYi7/s320/estatistica.gif" width="254" border="0" /></a><br /><br /><span style="color:#3333ff;">A minha primeira leitura marcante foi O Equilibrista, de Fernanda Lopes de Almeida e Fernando de Castro Lopes, ainda durante a infância. Em fevereiro de 2005, Guacira Cavalcanti – contadora de estórias e cúmplice de poesia – presenteou-me com este livro. Reler foi uma experiência brutal. Sabe aquele papo furado de “ler é viajar, blá, blá, blá...”? Pois bem, fez todo sentido! Praticamente senti o cheiro do jardim da casa onde morávamos, na Rua das Acácias. Fui dormi com as sensações infantis resgatadas através daquelas 33 páginas coloridas.<br /><br />Na manhã seguinte, acordei certo de que O Equilibrista fora escrito para adultos. Era profundo demais para crianças. Como assim, para crianças?! Conversando com D. Nídia, minha progenitora, durante o café da manhã, ela citou Cecília Meireles, que dizia: “livro infantil é livro que criança também pode ler”.<br /><br />Mantive o hábito de leitura. Hoje sou bem mais seletivo, mas já li de tudo e não acredito em subliteratura como os intelectualóides de plantão. Não sou do time que odeia Paulo Coelho sem ter lido sequer uma linha. Li O Alquimista, Diário de um Mago e Brida. Tenho meus motivos. Mas desgostar não significa em absoluto desconsiderar o mérito. Desconfio tanto de quem só lê Paulo Coelho quanto de quem apenas lê Machado de Assis. No Instituto de Letras da Universidade Federal da Baêa minha porra, reduto dos academicistas-com-ar-blasè-não-tô-nem-aí-pra-você-mocréia, alguém que assume gostar de ler Paulo Coelho corre o sério risco de ser apedrejado ou atropelado por um caminhão carregado de purpurina. Perigosíssimo!<br /><br />Sou da geração que ainda não se adaptou aos novos paradigmas da leitura como, por exemplo, ler na tela do computador. Se o texto tiver umas duas laudas, massa. Mais do que isso, entretanto, preciso imprimir. Sou um dinossauro da leitura.<br /><br />Há tempos já não tenho paciência para estes periódicos semanais. Tenho verdadeiro asco da Veja. Não concebo como um órgão de imprensa, em pleno século XXI, ainda tem uma orientação tão fascista assim. Diogo Mainardi é o Darth Vader tupiquinim com complexo de inferioridade disfarçada de arrogância etnocêntrica americanófila. Evito conversar com pessoas que citam esse verme para legitimar um argumento, como se a opinião desse filhote abortado de Paulo Francis endossasse alguma merda. Aqui em casa, temos a assinatura da Istoé. Recentemente, contrataram um novo time de colunistas, pois estavam perdendo mercado para a supracitada arqui-rival. Num passado longínquo, essas publicações seguiam linha editorias muito distintas. Hoje, contudo, talvez a maior diferença seja que a Istoé reserva uma única página para as citações da semana de famosos, enquanto a Veja, duas.<br /><br />Assistir ao Esporte Espetacular no Domingo não é simplesmente um programa. É qualidade de vida. Geralmente faço isso folheando a Istoé, assim me distraio e a azia não ataca. No último domingo, enquanto via Dani Monteiro (ai, Dani!) se embrenhando na floresta amazônica com o destacamento do exército brasileiro especializado neste ambiente, o artigo da página 74, da seção Comportamento, da Istoé de 02 de julho/2008, nº 2017, ano 31, me prendeu a atenção. Dizia o título: “O BRASILEIRO É FELIZ NA CAMA: Pesquisa mundial mostra que a população tem elevada auto-estima sexual”. Eu, que só passo o olho, tive de ler tudo!<br /><br />Era menos de uma página, pois havia uma foto de um casal sorridente na cama que mais parecia propaganda de lençol. À medida que avançava na leitura, ia me convencendo de que o melhor era mesmo a fotografia do lençol de percal 300 fios da Buddemeyer. Foi quando me deparei com os números concernentes à freqüência com que determinados povos do mundo iam para cama. De acordo com a pesquisa realizada pela Pfizer, os cariocas têm uma média de 3,3 relações sexuais por semana, enquanto que as cariocas, 2,7. A primeira coisa a me intrigar foi esses três e sete décimos dos 3,3 e 2,7, respectivamente. (Sempre quis usar respectivamente. Acho chique pra caralho.) Como assim 3,3 vezes por semana, negão?! Significa o quê, exatamente? Talvez três intercursos completos e uma punhetinha? Os setes décimos, então, melhor deixar de lado (ops).<br /><br />Coincidentemente, logo após essa leitura, ainda incomodado, entrei no MSN e encontrei a revisora dos textos desse blog, minha amiga Paula Berbert. Comentei dos resultados das pesquisas e ela, para piorar a minha situação, apontou para outra questão que iria me atormentar trocentas vezes mais.<br /><br />Lubisco diz:<br />Babes, como assim 0,3? Estatística é uma farsa! É o que isso? Uma punhetinha, uma chupadinha no peito?<br />Paula Berbert diz:<br />Euaehuaheuahe. E essa diferença de 0,6 entre os homens e mulheres?<br />Lubisco diz:<br />Uia! Não tinha pensado nisso! Agora fudeu! Vai ver os cariocas tão se comendo entre eles pq tem muito viado lá!<br /><br />Paula diz:<br />Kkkkk. Vai ver OS cariocas viajam mais que AS cariocas e essa diferença é justamente de quando eles estão fora.<br />Lubisco diz:<br />Ok<br />Paula diz:<br />?<br />Lubisco diz:<br />Vou nessa. Ainda não terminei o artigo. Adios, babes.<br /><br />Voltei para minha leitura e percebi que tinha deixado escapar um dado importantíssimo que, na realidade, comprova que tanto Paula quanto eu estávamos certos nas nossas teorias. Em Belo Horizonte, os mineiros mantêm uma freqüência de 3,8 vezes de relações sexuais por semana, enquanto que as mineiras, 2,4... é, de fato os cariocas viajam muito para Belo Horizonte.</span><br /><br /><div align="right"><span style="color:#3333ff;">Texto revisado por Paula Berbert</span> </div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-33812309722898851642008-06-26T21:29:00.000-07:002008-12-12T21:39:13.307-08:00O COLECIONADOR DE SELOS<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivyp3JsHI5wsHf_LAcwsU9-VRk_mCHtBqdpQZVsEIvWs9sRRV8zLoo0KH67oAfJ6lmMWBC5JgpKajs2ABdbwvQHaIlP9AzMTX5CBjiV8MuP7sdmOQASK6GS6IAuWmzRz9bsNeBGEIwPrhe/s1600-h/beijo.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5216413843128413714" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" height="145" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivyp3JsHI5wsHf_LAcwsU9-VRk_mCHtBqdpQZVsEIvWs9sRRV8zLoo0KH67oAfJ6lmMWBC5JgpKajs2ABdbwvQHaIlP9AzMTX5CBjiV8MuP7sdmOQASK6GS6IAuWmzRz9bsNeBGEIwPrhe/s320/beijo.jpg" width="217" border="0" /></a><br /><div><span style="color:#3333ff;">Lembro-me de um teste vocacional que fiz ainda durante o segundo grau. Surgiram tantas opções que saí do atendimento pedagógico mais confuso que antes. Tive quase a certeza de que era um gênio das Humanas, pois todos os caminhos me arremessavam no sentido contrário dos números. Em 1994, entrei no curso de Musicoterapia na UCSAL, mas não terminei. Em 1997, ingressei em Letras (Língua Estrangeira/Inglês) na Universidade Federal da Bahia, onde hoje leciono como professor substituto.<br /><br />Engraçado que nenhuma das minhas opções apareceu no resultado do teste cuidadosamente feito por Leli, então estagiária do NOE (Núcleo de Orientação Educacional) do Teresa de Lisieux. Também segundo a pedagoga oficial, Maria Helena Krushealgumacoisaquenãomelembrocomotermina, que me proveu com as possibilidades de caminhos profissionais a serem seguidos, Musicoterapia e Letras não estavam na lista. Ela tinha a certeza de que eu seria um “brilhante advogado ou, quem sabe, um publicitário de sucesso. Jornalista também podia ser uma boa, mas não dá tanto retorno financeiro assim”.<br /><br />Sempre tive a impressão de que os testes vocacionais dos cirurgiões oferecem duas únicas possibilidades: cirurgião ou açougueiro. Comentei isso com minha amiga Drika, Terapeuta Ocupacional por profissão, que me afirmou que ambas carreiras buscam, de certa forma, uma sublimação da violência. Não é que eu estava certo? E nem li Freud! Devo ser, de fato, um gênio das Humanas!<br /><br />Na semana passada, o meu terceiro molar inferior esquerdo sofreu de um processo infeccioso pela dificuldade de higienização, pois, por estar semi-ocluso, se formou uma cápsula que acumulava resíduos alimentares e transformou a área numa colônia de férias de bactérias. Lutamos contra a fase aguda – doía pra caralho –, mesmo sem eu poder parar de trabalhar, para, por fim, quando aliviada a crise, cortar o mal pela mandioca, como diria o Analista de Bagé (Luis Fernando Veríssimo).<br /><br />Meu amigo Leandro Eloy tem um critério assaz curioso para experimentar – ou não – esses drinques exóticos que vêm com miniaturas de guarda-sol, pedaços de fruta, chamas coloridas etc. e tal: jamais beba algo cuja cor inexista in natura ou que o nome não possa ser pronunciado depois da segunda dose. Todo mundo tem seu leque de critérios para os mais peculiares assuntos. Hoje de manhã, presenciei duas alunas minhas, de Língua Inglesa em Nível Avançado do curso de Letras, conversando sobre o que supus ter sido o término do relacionamento de uma delas. Eram muitas as reclamações contra o pobre rapaz. Caio devia ser o capeta personificado. Após um ligeiro silêncio, a que aconselhava me saiu com esta: “Também, com esse nome! Caio! Só tem uma consoante. Nunca daria certo. Tanta vogal assim não tem ponto de oclusão. Aí, ó, o cara é todo esquivo, escorregadio. Olha, Tânia, nunca namore um cara com tantos encontros vocálicos.”<br /><br />No geral, desconfio de profissões que necessitam de todo nosso fôlego para serem ditas. Naquela sexta-feira, porém, eu tinha um horário marcado com Dr. André, cirurgião bucomaxilofacial (ufa!) para extração do maldito siso.<br /><br />Todas as pessoas do mundo já tiraram pelo menos um dos cisos e sempre têm algo a acrescentar diante de alguém prestes a vivenciar isso, nem que seja somente aquela cara de “ihhh, se fudeu!”. Nunca tive medo de dentista, até porque meu pai, Dr. Raphael Portella, é um exemplar dessa espécie de sádico. Entretanto, confesso que, ao deitar na cadeira para o exame clínico que precederia o procedimento cirúrgico, estava um pouquinhozinho impressionado com tantas histórias e casos. Dr. André, com um topete irretocável, deu uma olhada no dente em questão e atirou: “Huuummm... Esse é dos bons!” Como assim, esse é dos bons!? Como assim, negão!?, pensei.<br /><br />Parecia um cenário de Kubrick: de baixo pra cima, só conseguia ver os olhos do dentista e de sua auxiliar, Cris, já que usavam aquelas máscaras cirúrgicas brancas. Via também um pedaço do teto branco e a luz do refletor, branca. Minha única distração era tentar acompanhar a carnificina através do reflexo nos óculos de proteção de Cris. Mas a remelinha no seu olho direito me incomodou mais que a minha curiosidade e resolvi permanecer de olhos bem fechados.<br />- Huum...<br />- (Falando com as sobrancelhas) Ai, meu Deus!<br />- Terei que utilizar a broca adiamantada para seccioná-lo ao meio. É maior do que pensava.<br />- (Com olhos semicerrados) Parou! Licenciado, não quero mais jogar isso, não.<br />...Zzzzzz... dddddrrrrrr... tuiiiiiinnnnnn...<br />- Ahá! Saiu... Olha aqui, essas raízes parecem postes.<br /><br />Saí do consultório quarenta minutos após o início da sessão de tortura com um “esperado sangramento”, um leve desconforto em função da anestesia, além de uma lista com trezentos itens para uma melhor recuperação. Entre todos, um me hipnotizou: alimentação líquida/pastosa e gelada. Em outras palavras: sorvete. Extrair um dentezinho não podia ser tão ruim assim.<br /><br />Dois dias depois, eu já não suportava a idéia de tomar sorvete. Queria mastigar, mastigar, mastigar. Estava quase depressivo. É muito triste ficar limitado em suas ações por causa de um... um... um dente! Tenho 1,80m. Quanto por cento da minha massa corporal corresponde o terceiro molar? E era justamente esse percentual irrisório que me proibia de tantas coisas. Cheguei ao ponto de ir a um churrasco na casa de Pat e Gabriel, naquele estilo cada um leva alguma coisa, e levei polpa de fruta. Como assim?! Os amigos comendo coração de galinha, picanha, calabresa, e eu levantando para bater um suquinho na cozinha!<br /><br />Conversando com Xandão, quando voltávamos do churrasco com suco, ele me fez uma pergunta que não soube responder e julguei ser relevante para o meu processo recuperatório. Lancei mão do último item da interminável lista de Dr. André, que dizia: em caso de dúvidas e/ou emergência, entre em contato. O meu celular está ligado 24h/dia.<br /><br />- Alô.<br />- Dr. André, aqui é Lubisco. O senhor extraiu o meu terceiro molar inferior esquerdo na última sexta-feira.<br />- Hum...<br />- Aquele que teve que ser seccionado ao meio com uma broca adiamantada senão ficaríamos lá até após o São João, cujas raízes mais pareciam postes!<br />- Ah, claro! Olá, Lubisco. Algum problema? Aconteceu algo?<br />- Não, não. Na realidade, queria pedir desculpas antecipadamente por ligar às 22:00h da véspera de um feriado só para tirar uma dúvida...<br />- Que é isso, pode perguntar.<br />- Bem, veja só... erm... eu posso beijar na boca?<br />- Huum... Como tinha dito, foi um dente muito volumoso e precisamos que se forme um grande coágulo de cicatrização aí...<br />- Lembro disso.<br />- Por isso, tantos cuidados. O antibiótico que você tá tomando vem lutando contra as bactérias da sua própria boca, certo? Não precisamos de outras bactérias aí... e uma outra língua é um corpo estranho, né?<br />- É?<br />- Até próxima sexta, então, só selinho!</span></div><div><span style="color:#3333ff;"></span></div><div><span style="color:#3333ff;"></span></div><div align="right"><span style="color:#3333ff;">Texto revisado por Paula Berbert.</span></div><div><span style="color:#3333ff;"></span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-54432075472310598532008-06-24T13:34:00.000-07:002008-12-12T21:39:13.450-08:00SEMINARSTRASSE<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3O_gSY84Pm7Lxo5p3mLJu0m7_JtTHl21t0b7jNFsbNxdFbSW7D18yUpN07lGnG3rcWLyTCKeRmWy-u1o3mYjizlxQUDw4CUnu4hyphenhyphen3o6TOhIAS71XMTlbWqvJnu8E5y14HjeyIl24pfOTU/s1600-h/termica.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5215549297355694402" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" height="244" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3O_gSY84Pm7Lxo5p3mLJu0m7_JtTHl21t0b7jNFsbNxdFbSW7D18yUpN07lGnG3rcWLyTCKeRmWy-u1o3mYjizlxQUDw4CUnu4hyphenhyphen3o6TOhIAS71XMTlbWqvJnu8E5y14HjeyIl24pfOTU/s320/termica.jpg" width="167" border="0" /></a><br /><div><span style="color:#3333ff;">Quero escrever um livro que tenha o cheiro da grama molhada de certa casa. As portas são de madeira maciça, mas estão sempre abertas. As janelas, amplas e não menos de duas por cômodo, deixam o mundo entrar sem ser anunciado. O jardim é pequeno, mas nada econômico nas cores. No quintal, vêem-se árvores cujos nomes ainda sequer foram inventados. Rodeando a casa, estipulando limites, um muro desenhado a giz, erguido no ar na mais irretocável perspectiva.<br />Não há vizinhos. É a única casa da rua. Já ao longe, assim que se dobra a esquina para entrar na Seminarstrasse, pode-se avistá-la. Nem grande nem pequena e sem maiores pompas. As paredes de tijolo vermelho parecem brotar do gramado verde feito esperança. No outono, o reflexo do sol às 3:00 desenha um feixe furtacor que bate bem nos olhos de que estiver no portão da frente, voltado para a janela maior da sala. No início da noite, um cheiro de café incensa a casa por alguns instantes. É só o tempo de ficar pronto e então ser aprisionado na garrafa térmica da vovó - a cor de laranja, pois a florida quebrou na mudança!<br />O gabinete é um velho cisudo que sabe de muitas coisas. Seus livros, que não são poucos, sorriem iludidos sempre que algum visitante desavisado se aventura por lá.<br />Quem passa pela frente mal percebe a casa, exceto pelo fato de sofrer solitária na rua. Não tem nada que a diferencie de qualquer outra... somente esse cheiro que me nina nas noites mais longas e que dá vida ao meu livro.<br />O cheiro, Nina! O cheiro!</span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-21906099351808859332008-06-14T14:50:00.000-07:002008-12-12T21:39:13.613-08:00ERA UMA CASA PORTUGUESA COM CERTEZA<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoLOSKUfXz-pEu8iaE6h9-bSFE2m4K2PJzxaiN95Iakpucrbb3pDKeu9gD1Vg72So2pyXLdwlldwg6RWiN6x0MOO0VQeNF6rphIsdZRdb3vAXoy4w6SL3yQiSe_8VpqGUUQvmoeYjeFJU2/s1600-h/sem+título.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5211861746732886226" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 182px; CURSOR: hand; HEIGHT: 132px" height="158" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoLOSKUfXz-pEu8iaE6h9-bSFE2m4K2PJzxaiN95Iakpucrbb3pDKeu9gD1Vg72So2pyXLdwlldwg6RWiN6x0MOO0VQeNF6rphIsdZRdb3vAXoy4w6SL3yQiSe_8VpqGUUQvmoeYjeFJU2/s320/sem+t%C3%ADtulo.bmp" width="148" border="0" /></a> <div><div><span style="font-family:arial;color:#3333ff;">Estudar língua numa sala multicultural é uma experiência única. Nas minhas aulas de alemão patrocinadas pela igreja católica para imigrantes sem condições de pagar os cursos tradicionais, deliciava-me com tantas diferenças de olhar sobre um mesmo fato.<br /><br />Tive colegas do México, Bolívia, Colômbia, Grécia (um cozinheiro que já morava em Bremen há quase 5 anos, mas nunca necessitou aprender o idioma por praticamente viver entre seus conterrâneos, dentro do restaurante onde trabalhava), Filipinas, Brasil – minha amiga-irmã Cris – e até uma jovem mãe da Macedônia, que largou tudo na terra natal para trabalhar na Alemanha, juntar uma grana e garantir o futuro da filhinha que a levava às lágrimas toda vez que surgia na conversa.<br /><br />Foi, de fato, uma experiência indescritível. A cada momento me surpreendia com uma opinião inimaginável. Caminhos inusitados, opiniões por vezes horrendas, por outras apaixonantes.<br /><br />Lua, que estudava na mesma escola, mas numa turma 247 semestres mais adiantada, foi premiada com uma portuguesa chamada Isabel em sua sala. Chegaram a trabalhar juntas no depósito da H&M, colocando dispositivos de segurança eletrônicos nas roupas. O que, no princípio, era um agente motivador para Lua sair antes das 6:00 da manhã, num dos invernos mais rigorosos que a Alemanha já teve, e encarar uma hora e tanto de viagem antes de começar a extenuante jornada de 6 horas repetindo o mesmo movimento, tornou-se um fardo!<br /><br />Isabel era turrona demais. Só se convenceu que a minissérie OS MAIAS não era uma produção da TV portuguesa com participação de atores brasileiros quando visitou o site da Rede Globo – após Lua tê-la enviado o link por e-mail – e pôde conferir toda a ficha técnica. Contudo, não houve maneiras de ser convencida que Roberto Leal não era brasileiro, mas, sim, português!<br /><br />Por iniciativa de nossa irmã lisboeta (lá ele), a turma de alemão avançado da Koplinhaus foi ao Centro de Cultura Portuguesa em Bremen para comer Sardinhas com Batatas ao Murro. Soube por ela que esta era uma especialidade maravilhosa que iria “fisgar todos pela boca” (com sotaque de Manoel). Interessado em culinária mediterrânea que sou, pedi a receita:<br /><br />1. Sem descascar as batatas, lave-as bem sob água corrente.<br />2. Numa panela grande, coloque as batatas com a casca e 2 litros de água. Leve ao fogo médio e deixe cozinhar por 45 minutos. Transfira as batatas escorridas para um pano de prato limpo. (Ainda bem que é limpo. Ufa!)<br />3. Salpique um pouco de sal e regue com azeite.<br />4. Preaqueça o forno a 180ºC (temperatura média).<br />5. Cubra com papel-alumínio e leve ao forno preaquecido para assar por 15 minutos.<br />6. Quando esfriar, dê um murro em cada batata. (Como assim “dê um murro em cada batata”?! Como assim?!)<br /><br />Pois bem, éramos 20 pessoas das mais diversas nacionalidades, e a única possibilidade de comunicação era falando alemão! Ainda em casa, tive um mau pressentimento sobre o jantar daquela ensolarada noite de verão. Resolvi deixar para lá.<br /><br />Fomos muito bem recebidos por senhores e senhoras sorridentes, vestidos como se estivessem assistindo novela esparramados no sofá. Os primeiros minutos foram de apresentações e elucubrações a respeito de como nos acomodar confortavelmente. Foram muito delicados e atenciosos, de fato. Sentimo-nos em casa, sem exceção, da francesa ao iraniano.<br /><br />Rapidamente, como se tivessem brotado das oliveiras que cresciam no jardim e podiam ser vistas pelas amplas janelas, jovens bigodudos surgiram carregando pesadas mesas de madeira maciça e as dispuseram de maneira que se formou um quadrado que cabiam cinco de nós em cada lado. Genial! Nada daquelas mesas que uma cabeceira só se comunica com a outra por megafone. Senti-me culpado por ter sucumbido aos estereótipos e subestimado nossos atenciosos patrícios.<br /><br />Entre sentarmos e Seu Antônio Carlos – robusto senhor que fazia as vezes de garçom – chegar para “tirar o pedido das bebidas”, não se passaram mais do que 3 minutos. A demora ficou por conta dos clientes. Apenas Lua, que logo tomou a frente para organizar quem queria o quê, em alemão, e passar as informações em português, não era suficiente. Tentei ajudar, mas como organização e alemão nunca foram meu forte, acabei atrapalhando, e o que poderia ser resolvido rapidamente durou quase quinze minutos.<br /><br />Não fazia sentido algum Portugal jamais ter tido um campeão de F-1. Mais uma vez fui surpreendido pela velocidade do serviço. Em um piscar de olhos, rapazes munidos de bandejas prateadas, cheias de bebidas dos mais diversos sabores, aromas e cores, chegaram à nossa mesa. Aí se deu início ao mais longo capítulo da novela: Ai, meu Deus! O quê é de quem? Desta vez com o auxílio (?) de Isabel, Lua conseguiu, entre resmungos, gargalhadas, gotas na roupa e muita desordem, garantir que todos recebessem seus respectivos pedidos em aproximadamente 25 minutos.<br /><br />Finalmente o brinde! Como de costume na Alemanha, olhamos uns nos olhos dos outros (tem que se olhar no olho mesmo!) e nos saudamos com copos em riste dizendo prost.<br /><br />Já estávamos sentados, conversando animadamente com nossos copos, garrafas e cotovelos devidamente repousados sobre mesa de madeira escura e verniz manchado, quando Seu Antônio Carlos, acompanhado de três auxiliares, nos pediu para levantarmos tudo, pois iriam, então, estender a toalha de mesa...</span></div></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-434885611294344641.post-5965622749776460012008-06-10T05:46:00.000-07:002008-12-12T21:39:13.994-08:00Capiscum Annum<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_TvoJXMwMgUWdRbar8omu3Tr_v5cqIsyOP8V1D0K6XKRxUErIYUSOOp1VfVbx2ujjjuNMZUXRiITMRa12ogwsAROd9ladNoilOfpm9IpYz9gQIgBwaK7m6JJSlCxUMifdNVlXUzYNeqkN/s1600-h/pimentoes.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5210233942250918210" style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_TvoJXMwMgUWdRbar8omu3Tr_v5cqIsyOP8V1D0K6XKRxUErIYUSOOp1VfVbx2ujjjuNMZUXRiITMRa12ogwsAROd9ladNoilOfpm9IpYz9gQIgBwaK7m6JJSlCxUMifdNVlXUzYNeqkN/s320/pimentoes.jpg" border="0" /></a><br /><div><span style="color:#3333ff;">É muito comum as pessoas acreditarem que para falar uma língua estrangeira é necessário morar fora e que morar fora é sinônimo de aprender uma nova língua. Bem, jamais morei em nenhum dos 58 países falantes de língua inglesa e, entretanto, este é o idioma que ensino. On the other hand, morei um ano, três meses e 23 três dias na Alemanha e o máximo que consigo, além de contar e xingar, é cantar parabéns pra você.<br />Sorte minha que eles não têm também a versão longa-metragem com direito a “chegou a hora de apagar a velinha... que Deus lhe dê muita saúde e paz” (ad infinitum), sempre terminando com “é pique, é pique... rá, tim, bum! Fulano, fulano, fulano... aêêêê. Oxe, já pensou: rá, tim, bum! Friederisch, Friederisch, Friederisch! Como assim!?<br />Cantar parabéns na Alemanha era uma das poucas coisas simples de serem feitas, por isso aproveitei todas as oportunidades e cantei a plenos pulmões: Zum Geburtstag viel Glück, zum Geburtstag viel Glück, viel Glück zum Geburtstag, Zum Geburtstag viel Glück (Pelo dia de nascimento boa sorte, pelo dia de nascimento boa sorte, boa sorte pelo dia de nascimento, pelo dia de nascimento boa sorte).<br />Toda a minha geração ouviu a versão de Chico Buarque para Os Saltimbancos - musical infantil de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Balacov. Pois bem, essa era uma adaptação da história dos Irmãos Grimm chamada Os Músicos de Bremen (Die Bremer Stadtmusikanten). Morei em Bremen.Quando cheguei, numa quinta-feira de inverno, fui recepcionado na Hauptbanhonf, após quase 6 horas sentado num vagão de trem que partira de Frankfurt, por Michal e René. De lá, fomos direto pra casa de Michal, onde os amigos dele nos esperavam para uma festinha... Coincidentemente, acabei morando durante toda a minha estada no segundo andar daquele mesmo prédio de três andares, que ficava bem atrás de uma pequena praça arborizada, na rua Neustadtcontrescarpe, 28.<br />No apartamento de dois quartos, cozinha, banheiro e nenhuma sala, nos aguardava o que parecia ser um time de rugby formado por junkies desbotados. Estavam fechados no quarto ocupado por Heiner, próximo à cozinha, incensando o ambiente. Deviam estar se dedicando à nobre tarefa com muito afinco, pois, ao tentar entrar, quase sofri traumatismo craniano com o impacto da fumaça.Vencida a etapa de apresentações (This is Micha, Toby, Timo, Hejar, Heiner und Matze), eles continuaram confeccionando origames transgênicos e produzindo fumaça suficiente para aumentar o aquecimento global em pelo menos 5ºC /dia.<br />Acomodei-me e, observando a situação, percebi que há uma diferença fundamental entre rituais maconheirísticos alemão e brasileiro: enquanto aqui o povo dá uns paus no baseado (lá ele gigantesco) e passa, lá o cabra fuma o quanto quiser e, quando estiver satisfeito, passa a parada. Quem for ansioso rói as unhas até o toco! Que angústia!<br />Esperei pacientemente chegar a minha vez. Dois tragos foram suficientes para nivelar o meu Q.I. ao de uma ameba. Cheguei a solicitar um band-aid cerebral, mas, surpreendentemente, não fui compreendido por aquele bando de albinos, apesar da minha mímica perfeita.<br />Ainda não sei como não há nenhum estudo sério sobre entorpecentes e aquisição de segunda língua. Com os resultados que imagino, haverá um grande fluxo de estudantes procurando cursos não mais nos EUA, Canadá ou Reino Unido, mas, sim, na Jamaica: Welcome to Marley's School of English. Que lindo!<br />Com o passar das horas, inexplicavelmente, eu e René já compreendíamos todos os diálogos travados no quarto. Proporcionalmente à nossa compreensão, aumentou a fome de todos. E cabe ressaltar que todos, aqui, significam nove homens de larica!Por talvez ser o que estava em pior estado, já que não havia ingerido nada durante a viagem de trem, perguntei a Michal se tinha algo para comer. A resposta dele me preocupou: “Acho que sim. Veja se tem alguma coisa na geladeira”. Como assim?! Cadê o famoso planejamento alemão?! Nove marmanjos se entupindo de THC e ele achava que tinha algo?! Como assim?! Rezei até a Salve Rainha na esperança de encontrar qualquer coisa maior e mais doce do que uma barra de chocolate ao leite Nestlé.<br />Reinando solitário na prateleira do meio, entretanto, cercado por absolutamente nada, um pimentão amarelo. UMPIMENTÃOAMARELO. AI-MEU-DEUS-COMO-ASSIM-SÓ-TEM-ESSE-PIMENTÃO-AMARELO?!<br /><br />Entre o desespero da idéia de sair quase às duas da matina, num frio de -3ºC, para bater um rango no Kiosk dos turcos na rua de trás e a resignação de dormir faminto, voltei para o quarto e, empunhando o vegetal, perguntei aos donos da casa o que faríamos com aquilo. Heiner, que dividia o apartamento com Michal, levantou-se, pegou o pimentão e dirigiu-se à cozinha. Pensei: na certa, vai fazer uma receita de pimentões recheados, ensinada pela avó, que, por sua vez, aprendera durante a segunda guerra, a fim de reaproveitar sobras de outras refeições.<br />Poucos minutos após desaparecer na bruma, Heiner adentrou o quarto sob o olhar atento dos outros oito famintos remanescentes e, triunfante, colocou o prato em cima da mesa com o pimentão todo fatiado. Como assim, negão!?(Suspiro) Foi desta maneira que atordoamos a larica! Nove trogloditas se deliciaram com fatias daquele Capiscum Annum de cor-pigmento primária e cor-luz secundária, resultado da sobreposição das cores vermelha e verde que se encontra entre as faixas 565nm e 590nm do espectro de cores visíveis. </span></div>lubiscohttp://www.blogger.com/profile/10106251435143982713noreply@blogger.com4